É só quando me fixo no estreito de Magalhães que o meu nariz não descola mais da janela. Em frustrante lugar de coxia, vou para ‘cima’ das duas companhias de viagem. A holandesa guia turística em Ushuaia não se vai importar. Vai à janela. Entende o meu entusiasmo…
Em 2006 fiz este trajecto de carro. Zé Luís e Carlos completavam um trio que durante uma década visitou, junto, mais de um terço do planeta. Atravessar o caminho que Magalhães descobriu e imortalizou há cinco séculos com a autonomia de o fazer de carro é algo sem preço. Prometi voltar e não imagino melhor momento para honrar palavra dada.
A paisagem revolta-se em picos selvagens que ameaçam céu de algodão doce. Parecem ousadas estátuas, altivas no gesto. Nobres no ser. Sob nós, impressionantes montanhas. Envolventes lagos. Serenos vales. Neve de ingénua brancura. Ausência total de traço humano…
Ushuaia, a desejada, urge então: estende-se à minha direita. Surge como musa. Sinto-me marinheiro prestes a reencontrar a sua sereia. Nesta perspetiva, com o dia a desmaiar, reinam tonalidades de postal. Aquelas que se eternizamem nós. O aeroporto é pequeno. Saímos rápido.
Em 10 minutos estamos em casa: Ro preparou o jantar que Rita, Mariana, Raquel e Cristóvão partilham com inegável prazer. Chego com Sandra e Carla. O reencontro é efusivo. As manifestações de genuína alegria efémeras. Importa sentar. A comida está quentinha e sobra vinho argentino para celebrar…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua aventura pela Argentina e Uruguai. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.