Quando as portas se abrem, julgo entrar no paraíso. “Foste um bom menino toda a vida e, hoje, tens a tua recompensa”, imagino. Na verdade, esta voz não tem consistência na minha mente, mas bem poderia ser verdade. Este lugar é digno de recompensa para qualquer mortal com provas dadas de amor ao próximo. E ao anterior…
Este é o tipo de sentimentos que nunca um hotel me suscitou. Aqui, tudo é diferente. O Abbasi é um ícone mundial. Um caravançarai com 300 anos (novamente os Safavid…) e renovado a partir da década de 50 do século X por André Godard. Mais do que evitar a sua degradação, transformou este ícone da arquitetura persa num lugar incomparável. Digno e à altura daquele que se assume como o mais velho hotel do Mundo…
Em boa hora o rei sultão Hossein decidiu homenagear a sua mãe, a quem dedicou o projeto. “A escola e caravançarai de Madar-shat (mãe do rei)” foi o nome com que foi batizado.
350 euros bastam para dormir na mais luxuosa suite, mas apenas pretendemos jantar. Efetivamente, só temos de escolher entre os nove restaurantes do complexo. E nem todos são proibitivos ou antípodas à capacidade das nossas carteiras. Acredito que, por terras lusas, o simples usufruir dos jardins persas do seu interior (ao ar livre) custaria mais euros do que o belo jantar com que nos presenteamos. Este Irão não pára de surpreender: não falta luxo ao preço de… classe média.
Obviamente, exploramos cada recanto do recinto, perfumado por coloridas flores. Os restaurantes de diferente decoração, os diversos halls, os cursos de água e jardins tratados como se da principal joia do país se tratasse. E não anda longe…
Os Safavid, sinónimo de prosperidade económica, investimento e desenvolvimento, apostaram em bazares, pontes, mesquitas, escolas, barragens, estalagens, condutas de água… Tudo com elegância extrema e, sempre, sempre a pensar na utilidade.
Foram oito anos de trabalho para reconverter o espaço. Que merece ser explorado como um museu: na verdade, poucos edifícios cumprem tão bem este papel. Não há um centímetro desprovido de arte, história. O grupo Bornfreee sente que cada sala, corredor ou recanto merece ser saboreado como esta noite: dengosa e calmamente…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua aventura pelo Irão. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.