11h00. O André em pânico disse, como é hábito, que já estávamos atrasados.
Uma cama, tínhamos de aproveitar um bom soninho, visto que a noite anterior tínhamos dormido mal.
Com bastante preguiça, lá andámos aos encontrões em casa do tio do Alexandre, a arrumar a roupa ainda molhada, a tentar ligar o gás que desde ontem que não dava, enfim uma azáfama. O pior foi mesmo o gás não ligar, nem por nada. Há um dia que não tomávamos banho, e … muito sinceramente não estávamos muito confortáveis com isso. Mas é para isso que nós aqui estamos, para passar por isto mesmo. Carregámos o carro e, já prontos para irmos embora, uma ultima tentativa. “O gás já funciona!” grita a Patricia aliviadíssima. Voltamos para casa para tomar o banhinho quentinho. Limpinhos lá vamos nós para algum lado. Sabemos que será rumo ao interior alentejano, mas o resto será uma descoberta.
E que grande descoberta. Passando por Silves e parando para tomar o cafezinho no Snack-Bar Rainha em Santo Estevão, em que ficámos apáticos com uma citação do Sr. José, proprietário do bar que nos disse com um ar desanimado “Estou completamente estrangulado com esta crise!”. Uma realidade. Em Santo Estevão ninguém pára.
Seguimos e encontrámos a barragem do Arade. Lindíssimo! Apreciamos a paisagem e também constatamos (já desde a Costa Vicentina), que existem imensas pessoas a viajar nesta altura do ano. Ver autocaravanas é uma constante e na barragem do Arade foi um sitio onde vimos um aglomerado das mesmas. Não se entende: tantos turistas e ninguém pára no cantinho do Sr. José que tem tanto para oferecer.
Mais uma vez a fome, eterna companheira, leva-nos à nossa “batalha”.
Apresentámo-nos e a conversa surge fluentemente. Mal nos damos conta, já estamos a estender a roupa no estendal do café que, por sua vez, também é a casa da proprietária, a Sra. Zília Cruz. Vamos almoçar carne de porco com castanhas, mais um grande almoço. A sorte acompanha-nos constantemente nesta aventura, é um facto.
Já é noite, já não vemos a paisagem nem os lugares da melhor maneira, mas tem uma certa mística. Chegamos a Monsaraz. O silêncio paira no ar mas as nossas vozes dão vida à aldeia. Por entre o castelo a história renasce, a calçada típica leva-nos de uma ponta à outra, apenas duas pessoas pelo caminho. E já só queríamos ter chegado de dia.
Não é possível, certamente, chegar a todo o lado de dia e a noite também é maravilhosa: transmite-nos outra visão, com o dia temos a noite e assim há equilíbrio.
Hoje vamos dormir a Idanha-a-Nova. Se lá chegarmos. O gasóleo já foi quase todo, atingimos hoje mais de mil quilómetros, vamos ter de parar para o “peditório” mais difícil para nós e para as pessoas. É complicado trocar este “bem” mas não é impossível. Paramos em Estremoz e o trabalhador de uma bomba de rua ajudou do seu bolso com dois litros. É uma ajuda preciosa. Se muita gente contribuísse, chegaríamos a encher o depósito.
A viagem continua com algum receio de não termos gasóleo para conseguir chegar. Paramos em Vila Velha de Ródão, estação de serviço de Mateus Dias, recordam-se?
Vamos ver se ele está por lá para o cumprimentarmos e tentar angariar mais uns litros.
Um senhor à entrada reconhece-nos e, em conversa sobre a nossa aventura, quer dar-nos cinco euros. Não aceitamos, evidentemente, mas indicamos para dar ao senhor da bomba para pormos combustível. Foi bom termos parado. Mais uns litros é óptimo. Mateus Dias não está e a viagem prossegue.
Amigos do André souberam que iriamos para Idanha-a-Nova através do Facebook e de imediato nos contactaram para ajudar, neste momento precisamos é de combustível. Mais sorte, mais boa gente. E ainda recebemos umas bolachinhas para o caminho.
Mesmo assim, entrámos na reserva e o receio continua, mas… chegamos a Idanha-a-Nova.
Vamos bater à porta do bar-restaurante A Esplanada, do nosso caro amigo Carlos. Foi ali que o projeto nasceu, faz sentido ir jantar ali. O Carlos não negou, como era de esperar, jantamos e cansados de tantos quilómetros feitos hoje, dividimo-nos, uns na carrinha, outros em casa de amigos e descansamos tranquilos em terras conhecidas, com oferta de um saco cheio de comida, para o dia seguinte, de uma grande amiga, Carolina. Até breve.
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“Até onde vais com 5 euros?” É a pergunta de um grupo de cinco estudantes entre os 19 e os 24 anos, da Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova, que andam à descoberta de Portugal numa carrinha. Orçamento: cinco euros cada um. Contam com a solidariedade e estão preparados para trabalhar em troca. Pode saber mais sobre a aventura na Fugas, segui-los neste blogue ou no Facebook oficial.