Até onde vais com 5 euros? Dia 4: A Sul, à descoberta de outra pérola

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Uma noite difícil: Dormimos mal e com muito frio. Acordámos ainda no Cercal, nas imediações da casa do Sr. Carlos, na carrinha. Abrimos as portas e um olhar vale mais que mil palavras. Prados verdes, ovelhas a pastar, o Alentejo. Bom dia Portugal!

Com um cheirinho a café, damos uns dedinhos de conversa com o Sr. Carlos. Um senhor humilde, com tanta história, raça de aventureiro. As mãos dão-lhe o seu trabalho neste momento: artesão de coração, faz desde tapetes a carteiras envolvido em novelos de lã. Um homem de sete ofícios que até reconstruiu a sua casa. Com um olhar meigo, assim se despede de nós.

Partimos por entre campos e planícies e paramos em Sines para esticar as pernas e ver aquela grande paisagem. Vamos ao castelo, remete-nos para as músicas do mundo. Uma localidade conceituada com a sua história e com um festival tão bom.

O nosso destino é a Lagoa de Santo André. Após quatro dias por estes caminhos, o gasóleo está a desaparecer. Uma das grandes preocupações. Está na hora de pedirmos essa ajuda preciosa para cumprirmos o objectivo: 2000 Km. Carro parado não faz viagem com toda a certeza.

Bombas de serviço Azinhal. “Paramos? Claro”, dissemos nós com bastante confiança. Uma bomba pequena, numa estrada pouco movimentada, vamos tentar a nossa sorte. Mais uma vez nos damo-nos a conhecer mas a senhora já nos conhecia e ficou radiante com a nossa presença.  Ajudou-nos sem hesitar e ela mesmo é que nos surpreendeu. Atestou-nos o depósito! “Fantástico, muito obrigado”. O primeiro pedido de gasóleo e o sim de combustível. Nem queríamos acreditar e, aliás, ela nem quis nada em troca.

Arrancámos, mais uma vez. Agora mais tranquilos com um dos nossos objectivos, o de ter combustível, para alcançarmos o máximo de quilómetros possível.

Chegámos à Lagoa de Santo André, em que o mar é separado e se transforma numa lagoa. Correr descalços na areia, apanhar conchinhas, o barulho das ondas, respirar a maresia.

Fome! Esta necessidade básica para nos manter equilibrados. Dois restaurantes à beira-mar e consequentemente duas respostas negativas. Não faz mal. Por experiencia própria há-de vir melhor.

E não poderíamos fugir á regra. Chez Daniel é apetecível. Um restaurante requintado onde não poderíamos deixar de passar. Damo-nos a conhecer e a ajuda surge no momento.

– Vou fazer-vos lombo assado recheado com ameixa, batata frita e arroz, gostam? Perguntou-nos o proprietário do restaurante.

– Diga lá isso outra vez?! Dissemos nós com água na boca. Era claríssimo que era uma refeição óptima.

Criado em 1925, junto à praia, há 15 anos que estão um pouco afastados, surgindo bastantes remodelações.

Um almoço requintado, com entradas, prato principal, sobremesa, café e, surpresa!, ainda nos deram um bom queijo e pão para prosseguirmos viagem. Melhor seria impossível.

Atestados, e confortáveis com o almoço, está na hora de partir. As chegadas são surpreendentes e as partidas deixam um aperto. Agradecimentos acima de tudo e a nostalgia de ser tão pouco tempo. Deixamos sempre um pouco de nós e trazemos muito dos locais por onde passamos.

Seguimos viagem. Costa Vicentina aqui vamos nós. Praias fantásticas, arribas que impõem respeito, lugares mágicos e sítios inspiradores, foi assim em São Torpes, Porto Covo, Praia do Malhão, Vila Nova de Milfontes e Odeceixe. Sítios exuberantes.

Um pouco perdidos, ou talvez não, vamos pela Serra de Monchique. Curva contra curva, encontrámos mais paisagens lindíssimas A serra e o mar, o céu azul e a lua acompanhados pelo dia e a noite. Sim, é quase noite e nós pela serra um pouco desorientados.

Corcino

Mas… mais uma prova do destino. Sim, só pode ser destino. Chegamos a Corcino. Com direito a placa e tudo, mas nem aparece no mapa. Isto porque é uma aldeia tão pequena que só vivem oito pessoas, três famílias. Pois é … encontrámos mais uma pérola preciosa, encontrámos a base do nosso projecto mais uma vez, a história de um lugar como este.

Ao chegar apitámos algumas vezes mas ninguém apareceu. Fomos então bater a uma porta e o Sr. Daniel Martins aparece.

– Há uns anos eram mais pessoas, mas foram partindo para outros sítios, pois aqui vive-se maioritariamente da agricultura – explica Daniel Martins em resposta ao porquê de só oito pessoas. Um senhor conhecedor de muitas coisas, que hoje em dia vive da agricultura e trabalhos florestais.

E assim partimos realizados. “Perdemo-nos e encontrámo-nos” novamente.

“É isto que queremos encontrar.” Faz sempre sentido mesmo quando nos parece dissipado.

A estrada continua já com a noite cerrada e a próxima paragem é Sagres. De noite, ir ao Cabo de São Vicente é um pouco assustador! Mas o medo metemo-lo no bolso para nos manter alerta.

Mal abrimos a porta o ruido das ondas era uma voz assustadora. O farol iluminava as arribas, está na hora de ir embora. O respeito é muito bonito.

Já cansados, que o dia foi produtivo mas longo. Decidimos bater à porta de dois amigos em Portimão. João (de Mação) e Sara (da Covilhã) quase recém-chegados ao Algarve para construir uma vida. Sara tinha chegado hoje para o seu primeiro dia de trabalho e João em Agosto. Amigos são para todas as ocasiões e lá chegou um grande franguinho assado para o jantar e umas bebidas para acompanhar, a vida é super. Aproveitar para pôr a conversa em dia e como o tempo passa e o cansaço pesa, vamos partir.

Finalmente vamos dormir numa cama. Armação de Pêra é o local mais desejado para descansar. O tio do Alexandre está em Cuba e logo que soube que estaríamos no Algarve cedeu a sua casa.

Vamos lavar roupa. Boa! Duas máquinas feitas, roupa estendida. Xiu, hora de dormir. Até já!
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“Até onde vais com 5 euros?” É a per­gunta de um grupo de cinco estu­dan­tes entre os 19 e os 24 anos, da Escola Supe­rior de Ges­tão de Idanha-a-Nova, que andam à des­co­berta de Por­tu­gal numa car­ri­nha. Orça­mento: cinco euros cada um. Con­tam com a soli­da­ri­e­dade e estão pre­pa­ra­dos para tra­ba­lhar em troca. Pode saber mais sobre a aven­tura na Fugas, segui-los neste blo­gue ou no Face­book ofi­cial.

 

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