Não é a primeira vez que estou na Suécia mas a grande novidade está na forma como cheguei e até como fui recebida. Andar de ferry é por si só uma experiência. Gostei bastante de dormir, tomar o pequeno-almoço e compras a bordo. Não senti que estivesse em “andamento”, podia estar em qualquer normal quarto de hotel, restaurante ou loja. E o melhor foi mesmo a vista mar por todo o lado!
Depois de deixar o ferry, a alfândega mandou-me parar. Revistaram o carro e pelas perguntas realizadas fiquei dividida: ou a minha viagem lhes provocou muita curiosidade ou então não faziam ideia de onde fica Portugal (também acredito que muitos portugueses não sabem onde fica a Suécia).
Mas para o meu destino, Osthammar, onde ia festejar o Midsommar ainda faltavam mais de 600 kms. E já aqui disse que lá estaria, com chuva ou com sol. O que não contava era com a intensa chuva pelo caminho, como aconteceu. Decidi então fazer uma paragem para descansar. Fiquei numa típica cabana de madeira na cidade de Jonkoping, nas margens do enorme lago Vattern. E por causa da chuva apenas na manhã seguinte me pude aperceber da beleza do local.
Muito perto do centro da cidade há uma pequena extensão de areia e vários espaços verdes muito bem aproveitados pelas famílias para diversas actividades: piqueniques, trabalhos de pintura, passeios de bicicleta, banhos de sol, tudo era válido para aproveitar os bonitos raios de sol (sim, até parece mentira, como o clima aqui muda constantemente).
Antes de chegar a Estocolmo ainda parei numa estação de serviço e encontrei a Isabel (assim mesmo escrito) com flores na cabeça e cruzei-me com bastante trânsito a sair da cidade, o que me relembrou que a grande noite está mesmo aí a chegar.
E afinal os festejos da noite de Midsommar, transformaram-se num dia inteiro de convívio familiar.
Esta celebração do Verão, feriado, normalmente varia entre os dias 20 a 26 de Junho para que seja sempre a uma sexta-feira – respeitando a organização sueca – é também a maior festa familiar da Suécia. Maior do que o Natal, asseguraram-me.
Assim como me informaram que a verdadeira festa tradicional se faz maioritariamente nas pequenas localidades e não nas grandes cidades (de onde saem muitas famílias para passar este fim-de-semana alargado perto da natureza e da água). Eu estive em Osthammar, a cerca de 140 kms a norte de Estocolmo.
O almoço só foi servido às 13h, na verdade, relativamente tarde para os padrões suecos. Entre membros da família e amigos convidados, éramos cerca de 30 pessoas. O dia estava muito bonito e quente, mais de 25 graus, e as mesas e cadeiras foram colocadas nas traseiras da casa, onde também já estavam montadas algumas tendas, a fazer prever uma noite passada de forma diferente.
Todos os ingredientes do almoço festivo foram expostos numa mesa e os convidados formaram fila para se servir. Havia várias variedades de arenque (peixe, que por aqui é conhecido por sill) com ervas aromáticas, com mostarda, ao natural…, um creme branco parecido com natas, ovos cozidos recheados e as muito típicas pequenas batatas assadas com casca. Durante o almoço houve vários momentos de “snaps”, forte bebida tradicional ingerida em pequenos copos e precedida de vários cânticos.
E com o aproximar da hora marcada para o início da festa, 15h, as famílias começaram a chegar. É incrível como o sol influencia a vida das pessoas por aqui. Depois de longos meses com pouca luz e calor, é até compreensível como é importante e tão desejável um dia bonito.
Algumas crianças e mulheres traziam coroas de flores na cabeça, que segundo a tradição devem ser usadas apenas por mulheres solteiras mas actualmente outras pessoas também as usam.
Quando a música começou a tocar e com a ajuda de alguns presentes, o “pole” (pau enfeitado com flores, símbolo da fertilidade) foi levantado e seguiu-se uma “chuva de rebuçados”, em que os organizadores da festa de cesto na mão, atiraram para o ar estas guloseimas, para delícia da pequenada. Depois começou a verdadeira concentração de famílias à volta do “pole”, sempre organizados em diversas rodas.Todos cantaram e dançaram durante cerca de meia hora e a mais famosa das coreografias é sem dúvida a dos “pequenos sapos” em que adultos e crianças cantam e fazem gestos adequados ao tema da canção. Foi um momento bastante cúmplice entre pais e filhos e em que ninguém parecia estar interessado em potenciais situações mais embaraçosas.
De regresso a casa, participei em alguns jogos tradicionais, as chamadas Olimpíadas do Midsommar e depois, entre os convidados, houve quem fizesse questão de se vestir a rigor, como que para receber da melhor forma possível uma das mais importantes noites da Suécia.
Seguiu-se o jantar: carne, rúcula, pepino e pimentos, salada de batatas e novamente as batatas assadas. A tradicional sobremesa de natas e morangos foi preparada de forma pouco convencional: um concurso entre os convidados, em que cada equipa fez um bolo ali mesmo em poucos minutos e depois se elegeu um vencedor e tudo!
Apenas às 23h o céu começou a escurecer, mas na verdade não chegou a ficar completamente negro até cerca das 2h da manhã quando começou novamente a clarear. E será assim até finais de Julho.
E assim são as noites mais longas do ano por terras suecas.
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Joana Batista cruzou a Europa em carro de Portugal à Suécia, com planos de seguir depois para novo destino. Conta aqui a experiência. Pode acompanhar mais detalhes da viagem no blogue viajaremfamilia.com
Muito bom, gostei muito!!!