Anna chegará nesse dia a Tirana. E faz questão de ir comigo ao Kosovo. A decisão fica evidente. Darei volta maior, mas melhor que não a deixe só na incógnita de entrar num país conhecido por razões menos felizes.
Madrugo, pois sei que só de Struga, a uns 25 quilómetros, terei transporte direto para a Albânia.
Subitamente, a água engasga e lá se vai o desejado banho que estava para começar. Não há ninguém a quem recorrer. Estou por minha conta em todo o edifício. O dia podia começar melhor…
Faço toda a pedonal e chego à longa rua que sai da cidade. Uma carrinha pára do outro lado e já estou a caminho. Não tenho lugar sentado, mas corpulento local dá-me o seu. Insisto que não, porém o seu braço, da grossura da minha perna, convence-me a aceitar a generosa oferta.
Com o lago à minha esquerda, a viagem passa rápido. Quando o lençol de água passa para o lado direito, percebo que algo está mal. Afinal, o transporte não pára e a central de camionagem nem fica perto. Saio. Pergunto a este e aquele. Não está fácil. Finalmente alguém me dá indicações, em alemão, e
avanço nessa direção. Recuso taxi. Tenho 30 minutos para fazer 1, 2 ou 3 quilómetros (as indicações não convergem). Sigo o rio. E saio da cidade. Completamente.
Resta um só edifício. Garantem que é por detrás. Afinal, só vejo TIR. Sugerem-me que ande mais 200 ou 300 metros. Ufa…
O alívio dura pouco, já que não vejo um único passageiro no terminal. Só dois veículos decrépitos. E sem gente. Uma senhora diz-me que para Tirana só parte às 10h00, meia hora depois. Na deserta gare dois.
O tempo avança e, sem qualquer movimento humano, tento reconfirmar. Azar: mesma senhora dentro do bus a cujo motorista recorro. Convence-me, definitivamente, pela convicção da sua voz.
À hora marcada, nada. Minutos depois, carrinha de uns 15 lugares. Sou o único passageiro a entrar em Struga.
Em pouco tempo já é Albânia. Montanhas imponentes, picos nevados. E lixo sem fim. Principalmente nos rios. Toneladas de restos de tudo. E, sobretudo, plástico. Em quantidades surpreendentemente apocalípticas. Montes de casas inacabadas. Muitas delas entretanto abandonadas.
Percebo que os caminhos de ferro já reinaram aqui. Sobram pontes e viadutos que os conduziam. Em estado de degradação tal que imagino que custa mais recuperar do que fazer de novo. Tal como em Portugal, o erro de abandonar este tipo de transporte.
Quatro horas depois, penso que estou a entrar em Tirana. Afinal, é a cidade portuária de Durres. Volta maior até chegar à capital. Aqui, não encontrando falantes de inglês no autocarro, saio quando me parece uma zona central. Bingo. Não podia ser melhor.
Mochila e caminhar. Vou seguindo instruções até que alguém, que não fala inglês, é assertivo em enviar-me para direção diferente da que seguia por diversas orientações policiais. Cometo o erro de só falar da rua. Meia hora depois estou numa escola que nada tem a ver com o pik loti, onde vou ficar. Mas tem a escola com o nome da rua. Pois…
Demorarei outra meia hora e várias outras voltas para chegar lá. E a pensar que estive a 200 metros…
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Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua viagem por Itália, Macedónia, Kosovo, Albânia e Grécia. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.