Tomei o pequeno-almoço no Maya, como de costume. O empregado do costume perguntou-me se eu queria o costume (muesli, fruta e iogurte, mais um pote de café orgânico). Disse que sim.
Trouxe-me o jornal de língua inglesa. Fiquei a saber que a tentativa do governo de prolongar a assembleia constituinte por mais três meses não deve passar, que o acordo para mudar a Constituição também não deve ser conseguido, que mais chatices andam na calha.
Lá mais para o fim do jornal, a foto duma actriz indiana em Cannes ilustrava a notícia que acabavam ali os seis meses de especulação sobre que vestido levaria a mocinha ao festival, se de designer internacional (como ela tinha a mania), se de designer indiano (como já era devido). O designer era dum país qualquer, mas, pelo menos, o país pode dormir descansado até ao próximo período especulativo.
Regresso a uma Katmandu mais calma do que a que deixei.
Em cima de um prédio, um grande cartaz com um canastrão indiano de meia-idade e olhos de carneiro mal morto, intitulado “Príncipe de Bollywood, Rei dos Corações”, continua a vender LCD.
No terraço do Doce Vita chega a música do bar do lado. Lou Reed e Tracy Chapman. Peço uma pizza vegetariana. Poupo-me o caril. E a contabilidade das almas.