Os chineses, quando são bonitos, são bonitos de morrer. Quando são feios, também. A maioria digamos que nos deixa assim mal mortos, que é como quem diz, pelas piores razões. Ontem entrei numa loja de sedas e, de repente, abre-se a cortina da cabine de provas e sai uma madame nos seus cinquenta com um coleante vestido tradicional chinês, racha até à articulação coxo-femural (não sei por que me deu para este tecnicismo), cabelo apanhado com enfeite de pedras coloridas, salto alto, aquilo era POWER da cabeça aos pés.
Os putos são todos uma graça. Tirei fotos a uns putos e a mãe, quando me viu, quis que os putos tirassem uma foto comigo. Somos bichos estranhos, temos o nariz muito grande (guilty as charged, mas com pena suspensa, please), temos os olhos esbugalhados (I plead innocent, my lord) e pêlos.
No parque encontrei uns senhores que se passeavam com uma vassoura pequena e um balde. Pus-me a ver o que faziam e percebi que a vassoura, afinal, era um pincel gigante. Iam molhando o pincel em água e escrevendo no cimento. À terceira “palavra” já a primeira começava a secar e mal se lia. À quarta “palavra” já a primeira desaparecera. E assim estavam sempre a escrever a terceira “palavra”. E não se prendem ao que saiu.
Ontem passei pelas barraquinhas de comes e bebes. Limitei-me a uma maçaroca e umas castanhas cozidas. Havia as famosas espetadinhas de tudo, escorpiões incluídos. Só nunca me tinha apercebido que os escorpiões estavam vivos e a espernear, espetados na tirinha de bambu. Assim, o petisco está fresco. Leva só um “entalão” na hora de comer. Já tinha visto na Tailândia, mas não sabia que aqui era ainda mais popular.
Ni hao é olá. Obrigado é sie sie. Quando testei dizer a coisa, saiu mais próximo do chichi que outra coisa. A língua é muito tonal e eu sou péssimo com pronúncias.
A Maria da Fé era com a voz, eu sou com os pezinhos: até que doam. Hoje aluguei bicicleta e entram novas variáveis na cantiga. De manhã aluguei a bicicleta, à hora, pelo valor que alugaria uma lambreta na Tailândia o dia todo e fui para sul da Cidade Proibida e sul de Pequim, claro, que os chineses são arrumadinhos com o Feng Shui.
Dei com mais uns hutong que eles vão arranjando para turista ou para se lembrarem do passado. A rua principal é das grandes marcas mundiais e chinesas e parece cenário. Mas cruza-se com as ruas antigas e autênticas com lojas centenárias. Aprecei um Buda que começou nos 500 yuan e já ia nos 100, mas pelo qual não dava 50. Comprei um minibule de chá que começou nos 380 e acabou nos 25. Falta-me a pachorra para isto. Fiz a asneira inédita de não ter levado a bateria suplente e acabaram-se as fotos. Voltei ao hotel ao almoço e fui para norte. Visitei um templo lama, o templo de Confúcio e mais hutongs.
Encontrei um velhote chinês no meio da rua com um banquinho sobre o qual havia tesoura de barbeiro e pente. Suponho que dos últimos barbeiros de rua. Cabeleireiros unissexo é, aliás, um dos negócios florescentes. Os cabeleireiros usam umas popas oxigenadas, capazes de envergonhar um bando de papagaios da Amazónia e que podem coexistir com meia franja à Beatriz Costa. Coisa complicada.
A ópera foi, como esperado, uma coisa colorida, um espectáculo de mímica e acrobacia e dança. Sempre dispensável o ruído de gatos com rabo a ser espremido em torniquete mas “prontos”.