Do conde drácula e outras histórias

O hotel não foi dos mais baratos que encontrei porque ainda entretive a ideia peregrina de que a Fnac me podia enviar a máquina fotográfica via DHL, esta semana. Acabei a pagar 320 euros por 8 noites. Afinal havia uma sobretaxa que ninguém menciona até uma pessoa estar com as malas na recepção. E não inclui pequeno-almoço. E o preço só é para os primeiros dois dias, depois “you will enjoy another price”. Se eu oiço um eufemismo nos próximos vinte anos, rebento.

Ontem sempre fui à ópera. Não era a ópera de Pequim, mas sim um espectáculo de ópera de Pequim na sala de espectáculos de um hotel.

Um magneto com máscara da ópera que custava 5 RMB na muralha custava 30 na ópera. O táxi para a ópera, que no hotel me tinham dado um preço indicativo de 30, acabou negociado a 70 e pago a 100. Não me chateei porque o trânsito era intenso e o táxi era motoreta com cabine atrás e, sem a sua condução frenética, ora em contramão, ora pretendendo ser um peão nas passadeiras, não teria havido ópera para ninguém.

O regresso começou nos 40 e acabou nos 400. O trânsito estava parado e acabei a sair do táxi numa rua escura no meio de chineses. Ele puxou dum cartão (que não existira inicialmente) para me dizer que eram 400 e não 40. E a partir daqui não sabia nem mais uma palavra de inglês. Achei melhor pagar e andar.

Claro que já olho para os chineses como quem quer morder.

Hoje os pequineses começaram com tolerância zero e boicote aos táxis.

De manhã fui procurar, então, a famosa zona das compras. Estava a ver um tipo a pintar um portão e logo um chinês muito simpático me veio opinar sobre a mestria do outro, etc. Conversa daqui, conversa dali, disse que é professor de pintura e, casualidade das casualidades, estávamos a passar ao pé do estúdio dele. Entrei. Era um sítio para vender pinturas e pronto. Lá acabei com duas pinturas que me fizeram lembrar Matisse, nem caras nem baratas.

Fui fazer o meu banho de multidão à Cidade Proibida. Eu tinha dito ao “professor” que estava a guardar a Cidade Proibida para outro dia que não domingo, por ter muita gente.

Afinal os chineses têm ponte (aprende, Passos Coelho). Assim sendo, acabei mesmo na Cidade Proibida. Para visitar o palácio não ia esperar pela minha reforma 67+, que não é como a dos chineses, que se reformam aos 60 para deixar os jovens trabalhar (aprende, Passos Coelho).

O palácio mesmo, baldei-me, hei-de ir outro dia. Que não havia o dito para tanta gente.

No retorno, apanho duas chinesas muito simpáticas, inglês muito fluente, muita conversa. Quando me despedi, propõem-se andar comigo e logo a seguir propõem tomar um chá ou café. Comecei logo a ver o filme, fui dizendo que não. A insistência era tanta, a casa de chá era logo ali, estava a começar a pingar, os pés estavam novamente feitos em polpa, acabei por dizer que sim. Entramos no que, afinal, parecia um pub com música ao vivo (noutras horas). Como gato escaldado tantas vezes está mesmo lixado com a água, abri as hostilidades pedindo a carta com os preços. Pedi um café (6 euros) e as meninas perguntaram se podiam antes pedir um drink, um drink de ladies, disseram.

Olhei para a lista e havia um salto das bebidas de 9 euros para 30. Disse-lhes que podiam beber a bebida de 9 euros e fiz o meu sorrisinho de chinesa. Elas pediram as bebidas em chinês. O empregado retirou-se e elas, então, disseram que eram umas bebidas e uns snacks. Eu fiz mais um sorrisinho de chinesa e informei que eu pagava as bebidas do preço estipulado e elas pagavam os snacks. Eis que as virgens impolutas descobriram que, afinal, se encontravam na sala não com o conde drácula mas com um vampiro sedento de sangue (chinês, que das virgens nem ilusão nem interesse). Aqui declarei que estava farto de chineses, que “enjoy your tea” e saí porta fora. Ao empregado disse que desistisse do café.

Eram só as bebidas e os snacks para as girls.

Se não fosse o táxi, ia ver um espectáculo de acrobacia. Mas, tirando a ida para o aeroporto, só torno a apanhar táxi com metralhadora.

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