1 de Fevereiro
Acordámos, prontos para partir, e a primeira surpresa foi o “gato por lebre” da excursão: o nosso guia era um vulgar taxista que mais não fez do que nos transportar, esperar por nós entre as caminhadas e o percurso de bicicleta, e brindar-nos com a sua companhia muda ao almoço, que estava incluído, num simpático restaurante de San Juan. Mas valeu, definitivamente a pena. As vistas até ao Chimborazo são magnificas, e foram desde pastagens verdejantes a desfiladeiros de montanha e formações geológicas sedimentares muito bonitas, culminando com a deserto branco do topo do vulcão. A pé, subimos apenas dos 4800 até aos 5000m, em mais ou menos uma hora, mas chegou para sentir a dificuldade em progredir, associada à falta de oxigénio e às dores de cabeça consequentes, que o mate de coca servido nos abrigos não conseguiu eliminar. Depois, descemos em bicicleta e bem abrigados, ao longo de 23km. Algumas partes mais difíceis, e falhas que me obrigaram a desmontar, no caminho de montanha, e depois asfalto, sempre a descer. Absolutamente inesquecível. Já em Riobamba, seguimos directos de partida para Cuenca, onde chegámos, jantámos mediocremente, e caímos na cama.
O dia foi passado em passeios pela cidade, de que gostei bastante, especialmente um parque arqueológico que visitámos, o Pumapungo, o passeio junto ao rio, e as ruas e praças com edifícios brancos coloniais, bem-conservados, e bons cafés e restaurantes. Nota para a comida no Equador: pollo, arroz com pollo, mais variantes de pollo, ah, e sopa de pollo. Ao fim do dia, deixámos Cuenca, rumo a sul novamente.
Aqui a divisão entre os dias dilui-se, porque a noite foi mal passada e interrompida pelas esperas nas fronteiras, em Huaquillas e Tumbes. Já no Peru, fomos parados pela polícia, que se indignou (e bem) porque não havia lugares sentados para todos os passageiros, e acabou por descortinar mais algumas ilegalidades, como menores de idade em viagens não autorizadas, o que fez com que tivéssemos de sair todos do autocarro, literalmente no meio do nada que é o deserto do norte do Peru, uma vez que a polícia tinha de “confiscar” o autocarro.

Este dia resume-se basicamente na viagem para Trujillo, de onde seguimos para Huanchaco, uma vila piscatória de praia a 12km, com hotéis e restaurantes q.b., alguma animação, e uma esplanada que acabaria por ser o nosso poiso certo nos dois dias seguintes, no Hostel My Friend.
Aproveitando o sol, a maior parte do dia foi de praia e descanso, o que soube bem, pese embora a praia ser um pouco suja, de areia escura, águas frias e vendedores chatos. Desiludiu – se esta vila é referenciada como das melhores de praia (e surf, mas esse departamento não é comigo) do país, então é esquecer a combinação Peru-praia.
Começámos o dia com as visitas às ruínas vizinhas, marcos da civilização Chimú, pré-Inca, tendo habitado o continente entre os séculos X e XIII – os templos Huaca Arco Íris e Huaca Esmeralda, ambos com desenhos bonitos no adobe, mas um fraco cuidado com a recuperação dos templos em si, e uma envolvente desoladora, de bairros degradados pelas encostas dos cerros. O complexo mais importante da zona é sem dúvida o Chan Chan, a cidade Chimú espraiada numa extensão de cerca de vinte quilómetros quadrados, e onde se estima terem habitado cerca de 100.000 pessoas.

Pela manhã , chegámos a Lima e depois de instalados (mais uma dica: o sossegado Cirque Hostel, numa rua quase exclusivamente residencial), encontrámo-nos com a Sara, uma amiga que está cá a morar com família, portugueses instalados em Lima a trabalhar para uma conhecida empresa em expansão no Peru. Passeámos pelo Malecón do Circuito de Playas, a marginal cá do sítio, que impressiona mais pelas falésias e pelos prédios circundantes do que pela qualidade das praias, e seguimos para Barranco, o bairro outrora aristocrata e estância balnear exclusiva, hoje mais boémio e com uma atmosfera convidativa de bares, cafés e restaurantes. Depois, uma visita a Miraflores, com a sua azáfama de grandes lojas, sedes de empresas e os vendedores do Parque Kennedy. Após jantarmos no Hostel, voltaríamos ao centro de Miraflores, a um bar de karaoke onde se juntou a nós o Luís, mais um da família de “tugas em Lima”, como a Sara chama ao grupo, e provámos a bebida nacional nas suas várias expressões em cocktails, o Pisco, que junto com o ceviche, resume o meu best off gastronómico peruano.
O dia começou com afazeres “burocráticos” – comprar os bilhetes de autocarro para o dia seguinte, e depois fomos aos Polvos Azules, um centro comercial de toda a espécie de coisas, conhecido pelas pechinchas, onde queria especialmente comparar preços de telemóveis, iPad’s e afins. A oferta é grande, e confusa por não ter feito o devido trabalho de casa de pesquisa, acabei por não levar nada. Seguimos para o centro: Plaza de Armas, a Catedral, o Palácio do Governo e a Igreja de São Francisco, das mais bonitas até agora. Aqui, saindo do “microcentro”, o contraste com as zonas de San Isidro e Miraflores é marcante – o trânsito louco, as ruas e os edifícios menos cuidados, em suma, mais América do Sul. Lima foi uma surpresa, é uma cidade maior do que eu esperava, com muitas desigualdades entre os bairros e as classes, mas onde se pode ter uma excelente qualidade de vida, conforme nos contaram os nossos anfitriões. Excelentes restaurantes e lojas, grandes casas, ruas residenciais tranquilas, quase europeias, e subúrbios de praia com acessos exclusivos, fazem dela uma metrópole que até agora, é provavelmente a única em que não me importaria de viver, por algum tempo. Depois de um jantar rápido e um filmezinho no hostel, mais uma noite de sono seguido. Amanhã partimos para Cuzco, numa viagem de 22 horas. O próximo post será, inevitavelmente, sobre as impressões do Macchu Picchu, um dos expoentes da viagem, pelo menos em termos de expectativas…
Visitei o Perú faz 10 anos. Adorei Cuzco, Machu Picchu e o Lago Titicaca. Passados tantos anos, muita coisa deve ter mudado. Fico na expectativa do desenvolvimento da vossa viagem. Obrigada e continuação de boa viagem
Em breve sairá o relato sobre o Macchu Picchu e o Titicaca – escrevo neste momento de Puno. O Perú tem de facto coisas muito bonitas! Obrigada pelo comentário
Espero que continuem a ter uma excelente viagem.
Aproveitem muito tudo o que este bom Peru tem para oferecer.
Vou ficar atento aos novos desenvolvimentos aqui no blog.
Abraços e beijinhos,
Luís
Obrigada Luís
Um Beijinho!