América Central: Rumo a Antigua

Cedo percebemos que estávamos a ser seguidos. Atrás dos nossos lentos passos, viatura ainda mais vagarosa. Parámos para os deixar passar. Imobilizaram-se. A cinco metros de nós. Até que avançaram…

“Para onde vão?”, questionaram. Tardei a virar-me. “Antigua”, acabei por dizer. Era a verdade. Não havia motivos para a esconder.

Ainda insatisfeitos, continuaram: “E como pensam lá chegar?”.

“Esperamos por um autocarro. Ou tentaremos boleia de um TIR. Tem sido assim a entrada em vários países. Confiamos novamente na sorte”, confessei.

“Não querem vir connosco? Deixá-los-emos no primeiro pueblo e aí apanham transporte para a capital”.

Virei-me para os companheiros de jornada. Mudaríamos a tradição-TIR? O “sim” não era uma resposta segura. Mas acabou por ser a que dei. Em segundos, bagagens nas traseiras da pick up. Entramos para o banco de trás. Escoltados pela polícia da Guatemala até ao povoado mais próximo.

Onde pensavam que poderíamos apanhar transporte, já não seria solução. Partiram para o plano B. Acabamos no C. A uns 50 quilómetros da fronteira.

Entre muitas outras coisas, quiseram saber se a nossa companhia feminina era ‘família’. Que não, revelamos, apenas uma “nova amiga”. Bastou isso para pedirem a Fernanda para ficar pela Guatemala. Valeu-lhe o trio protector…

Em cruzamento terra de ninguém, tentamos a boleia. Em 15 minutos, chegou o autocarro. Tínhamos de subir. Já apertados de tempo.

A ideia era chegar à cidade da Guatemala, a capital, e mudar de transporte para Antígua. “O problema é que a esta hora já não têm ligação”, diz-nos o motorista.

Um passageiro ouve conversa e diz o contrário. E que me leva lá, ao local onde posso apanhar a ligação.

O ambiente nocturno aqui é totalmente desaconselhável. De cortar à faca. Seguimos quem prometeu orientar-nos. Ao chegar a um autocarro de ligação, um carro da polícia apita-nos na passadeira. Não percebemos que é para nós. Seguimos caminho. Um agente sai da viatura. Armado de caçadeira. Segue-nos. Entra no nosso autocarro. Senta-se na última fila. Não tira os olhos de nós. Recebe uma comunicação via rádio. Acaba por sair mais tarde.

A nossa ligação, em “Tribol”, é num dos paraísos do crime da capital. Um passageiro estranha ver-nos no bus e pergunta quem nos está a enganar. Exaltado, quer saber o que se está a passar. O nosso “guia” não abre boca.

Perguntamos a uma jovem o que se passa. Aconselha-nos a ter muito cuidado. E avisa-nos que os autocarros nocturnos para Antigua são regularmente assaltados. “E quando há turistas neles, a informação vem de dentro”, acrescentou. Preocupada, deseja-nos boa sorte.

Saímos do bus. Caminhamos juntos. Passo determinado. A 200 metros, a sorte grande. A placa não enganava. Antigua. Demos-lhe sinal de paragem. Entramos de imediato. Sob um conjunto de olhares estupefactos. Julgando-nos loucos ou extra-terrestres.

Continuamos viagem. Autocarro à pinha. Pessoas em cima de outras. Entram e saem do autocarro empoleiradas noutros passageiros. Avançamos para Antigua.

Chegamos em segurança. Esta pérola da Guatemala promete cicatrizar-nos a memória.

 

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Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua viagem pela América Central ao longo de Novembro/Dezembro. No site www.bornfreee.com  pode aceder a outros rela­tos e ima­gens sobre a viagem.

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