Entrada do hotel Pedracin

Por entre a serra e a densa vegetação do interior da Ribeira Grande, surge um conjunto de apartamentos típicos caracterizados pelos seus telhado de palha. O empreendimento hoteleiro Pedracin Village é mesmo uma surpresa. E não apenas pelo preço; acima de tudo, é-o pelo espaço e pela forma como surge por entre a Natureza.

Ao abrir a porta do apartamento sou surpreendido por um peru junto à porta, mas o verdadeiro espanto surge quando sou acompanhado por um pavão no passeio matinal. Perante tal, cenário os galos e galinhas que circulam livremente por entre os apartamentos, passam até despercebidos.

Após o pequeno-almoço e um reconfortante mergulho na piscina, seguimos em direcção à Ribeira da Torre.  Uma zona que se encontra actualmente em obras, com vista a garantir que, em tempos mais chuvosas, o normal curso da ribeira não impeça que pessoas, animais e viaturas circulem livremente.

Lombo de Pico em plano de fundo enquanto nos refrescávamos

O sentimento de claustrofobia aumenta à medida que as montanhas se erguem numa imponente verticalidade e surgem zonas que não terão mais de 3 a 4 horas de sol por dia. A vegetação imensa, quase a lembrar o interior de uma floresta amazónica, fica cada vez mais densa e os pequenos cursos de água que alimentam a ribeira, tornam-se cada vez mais longos. Refrescámo-nos num deles, enquanto visualizamos Lombo de Pico ao fundo no horizonte. As obras não nos permitem avançar mais e fica apenas a promessa de um dia regressarmos para percorrermos toda a ribeira.

De volta à vila de Ribeira Grande, tempo para o almoço. Gato, um mecânico local amigo dos nossos guias, conversava connosco sobre a terra e as suas gentes quando o convidámos para se juntar. Não hesitou em aceitar e recomendou-nos o restaurante Cantinho da Amizade.

Aproveitei para saborear mais um polvinho grelhado e no final queijo de cabra com doce de Papaia – um Romeu e Julieta como lhe chamam por estas paragens. Para a parte da tarde, o nosso plano consiste em explorar a zona de Cabo da Ribeira e, acima de tudo, visitar o Curral do Sr. Normando, local onde a aguardente de cana ainda é fabricada pelo método artesanal. Infelizmente, encontrámos o senhor adoentado e apenas foi possível visitar as instalações, que não se encontravam em funcionamento na altura.

No regresso, havia ainda uma paragem há muito programada nas cachoeiras de Fund d’Cafê, um dos poucos locais onde se encontra uma cache (um passatempo/desporto de ar livre que consiste em localizar pequenas caixas georeferenciadas, que contêm um livro de registo – para saber mais é seguir para geocaching.com). Infelizmente, recentes actos de vandalismo obrigaram ao encerramento do local.

Por fim, seguimos em direcção à Ponta do Sol com a esperança de chegar a tempo para um “banho de mar”. Infelizmente, mais uma vez, não tivemos sorte. O sol já estava quase posto e os banhos estavam reservados apenas para os conhecedores do local. Mota não hesitou e apesar de me chamar por diversas vezes, optei por não arriscar.

Aproveitando que nos encontrávamos perto da casa do Sr. Correia, fomos convidados a entrar para matar a sede com um Pontche de Mel e sumo de pêssego e, claro, queijo da terra.

Com o calor que se faz sentir nesta zona, é bastante comum encontrarmos portas e janelas abertas, com os seus habitantes na rua, em cadeiras ou bancos improvisados. Do outro lado da rua, a minha companheira de viagem, Sónia, conversa com uma senhora. Esta, com um sorriso nos lábios, exclama: “Senhora, bô é bonita… dá um moeda!!!”. Cento e três anos passados sobre o seu nascimento e, não obstante o desdentado sorriso, a esta cabo-verdiana não faltava vontade de contar muitas, muitas histórias. E foi embalados por elas que regressámos ao hotel.