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Comício Público

A abstenção não é de ninguém

Os eleitores que hoje dispensaram os políticos que temos dispensam com certeza que esses mesmos políticos se predisponham a ser seus intérpretes ou até representantes.

Porque há sempre quem surja em tom moralista a explicar a razão da abstenção e há sempre quem nela veja a legitimação de uma qualquer posição política ou, pior ainda, a legitimação de outros espaços alegadamente mais democráticos do que as urnas, como a rua das manifestações ou os palácios dos golpes palacianos.

É que não há uma razão para a abstenção. Há milhares de razões, uma por cada pessoa que preferiu não se deslocar às urnas.

Há pessoas que não votam porque os políticos são todos igualmente maus, há pessoas que não votam porque nenhum dos que pode ganhar será especialmente mau, há pessoas que não votam porque há demasiados partidos, há pessoas que não votam porque não encontram o seu partido, há pessoas que não votam porque nada do que é importante está em perigo, há pessoas que não votam porque há o perigo de votar mal, há pessoas que não votam porque chove, há pessoas que não votam porque não chove, há pessoas que não votam porque se esqueceram, há pessoas que não votam porque ainda se lembram, há pessoas que não votam porque nada de importante se joga, há pessoas que não votam porque o importante é não participar.

Há de tudo. E havendo tudo, a abstenção não é de ninguém nem é especificamente contra alguém. Quem procurar ser politicamente interprete ou representante da abstenção afasta-se mais da democracia do que o abstencionista se afastou das urnas.

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