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Do voto fútil

A última semana de campanha foi dominada por uma insólita competição. Depois da novela da troika, em que se entretiveram a discutir quem era, afinal, o pai da criança, PS e Coligação deram início ao campeonato do consenso. O país vai assistindo, cansado, aos ataques treinados de Paulo Portas, acusando António Costa de uma temerosa radicalidade anti-consensos : o PS não aprovará​ ​um Orçamento de Estado do PAF, avisa o vice da candidatura. Costa responde, ora apelando à maioria absoluta e negando qualquer diálogo futuro com a direita, ora lembrando o ofício de grande federador de vontades na CM de Lisboa,​ ​homem​ ​acostumado aos diálogos necessários​.

Que o PAF aproveite qualquer ensejo para discutir tudo menos o programa oculto que já apresentou em Bruxelas, está tudo muito bem. Afinal, o que é esta dificuldade da direita em falar às gentes na rua senão uma fidelidade ao seu projeto? Quem habita a aridez da política, terá sempre entre as pessoas um lugar estranho.

Sobre o PS é que há algo mais a conversar. Dir-me-ão que António Costa, apesar de tudo, foi claro ao afirmar que “a última coisa que fazia sentido é que o voto no PS, que é um voto das pessoas que querem mudar de política, servisse depois para manter esta política”.​ ​A democracia teria​ ​ainda, portanto,​ ​uma possibilidade. A de fazer valer a vontade de um projeto​ ​pelo que ele tem de ideias​ ​e​ ​propostas. A possibilidade de enfrentar a chantagem de quem​ ​nos diz que isto só lá vai com o consenso que nada mais é que uma obediência (o programa lá está, em Bruxelas).

Se contarmos com esta palavra, sabemos que o voto útil é aquele que contará para as grandes decisões deste país. O voto que,​ ​num​ ​cenário​ ​sem​ ​maiorias​ ​absolutas​ ​à vista,​ ​pode ser decisivo para aumentar o salário mínimo, travar as privatizações, parar o abuso da precariedade. O voto para enfrentar quem ainda manda nisto tudo.

E dou por mim a pensar nessa possibilidade quando um amigo me envia um vídeo. Na imagem está António Costa e na data leio​:​ 13 de outubro de 2011. As palavras correm serenas, “para haver condições de governabilidade em Portugal, acho que existência de Blocos Centrais não são saudáveis”, e continuam “o PS e o PSD devem se oferecer condições recíprocas de governabilidade, abstendo-se em instrumentos fundamentais de governação [….] independentemente do conteúdo dos orçamentos”.

A tragédia do voto fútil é esta: acharmos que as palavras que se impõe como slogan​s​ de fim de campanha valem mais do que uma posição​ ​de princípio​ ​de quem sempre defendeu a ​​democracia como o jogo da alternância entre PS e PSD.

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