Em 2013, o carismático líder parlamentar do partido holandês 50Plus, Henricus Cornelis Maria Krol abdicou do seu lugar no Parlamento, admitindo ter cometido ‘vários erros’.
Em causa, a denúncia publicitada na imprensa, de que há onze anos, nos seus tempos de director do jornal Gay Krant, H. Krol não pagara durante algum tempo a segurança social dos empregados, aparentemente com o acordo destes, para assegurar a viabilização daquele órgão de comunicação.
Em todo o caso, e no mesmo dia em que a denúncia sobre o caso foi tornada pública, o líder parlamentar demitiu-se.
Consequências? Várias. Para além da renúncia de H. Krol ao cargo público, mesmo sabendo-se que aquele dinheiro não fora desviado para contas privadas mas para a recapitalização do jornal, assistiu-se junto do eleitorado, a uma queda na intenção de voto no ascendente partido de muito recente formação: de 6% para 3% numa só semana. Para metade, portanto.
É que há países e povos que aprenderam há muito tempo a utilizar o voto a seu favor. É que há povos para os quais a «fidelidade» política não faz qualquer sentido, já que entendem que fiéis às suas promessas e à ética que se apregoa, devem ser os representantes das mesmas forças partidárias que eles, com o seu voto, ajudam a eleger. Ou a derrubar.
Depois há outros países, e outro género de votantes, onde se inscreve uma larga franja de gente que fica em casa a ver espectáculos de «vidas reais», jogos de futebol e outras insanidades, quando não vai para a praia, para o campo, ou para o centro comercial, mas que orgulhosamente proclama que «não dá o seu voto a nenhum porque são todos iguais». Ou pior, denuncia essa prática, o acto eleitoral, como um disparate, uma perca de tempo, e outros mimos semelhantes.
É por isso que chegámos a isto.
Já agora, e para quem acha que o não voto é ‘determinante’ como forma de luta. Sabem, ao menos, o que acontece quando o número de abstenções é igual ou ultrapassa o número de votantes?
Resposta: NADA.
Rigorosamente nada. Ou melhor, tudo: a abstenção reforça grandemente a manutenção do estabelecido, reconduzindo os mesmos aos mesmos lugares.

Quando as próprias mulheres votavam… contra o direito de voto das mulheres.
[em Sexismo e Misoginia]
A abstenção, do ponto de vista prático, apenas significa, como está não me incomoda muito e, se tudo for alterado num sentido qualquer, também não me incomoda nada. Compondo esta posição de facto, com o discurso habitual do não vale a pena votar porque são todos iguais, só querem ir ao pote, ou ainda dos que se absteem justificando que abster-se é uma forma de “lhes mostrar” dá-nos uma ideia clara sobre as responsabilidades da situação actual.
Esta mentalidade demissionária é aproveitada de forma magistral por quem apenas está interessado no exercício do poder e quer impedir que o status quo seja abalado. Desde a criação dum sistema eleitoral que priveligia a “estabilidade” mesmo que à custa do apodrecimento da confiança nas instituições à manipulação da informação e opinião mediática, tudo´é justificável desde que sirva o objectivo principal, impedir a mudança.
O desprezo pelo papel da abstenção e por extensão do voto branco ou nulo, é tal que actualizar os cadernos eleitorais nunca é uma prioridade.
Torna-se claro pois, que o mal que nos atinge neste momento é sobretudo, uma mentalidade paradigmática que tem que ser alterada. Esta alteração de paradigma é o que também está em causa nestas eleições.
A mensagem do PAN propõe esta transformação, e a garantia que já temos de que não existirá maioria absoluta dá uma oportunidade de ouro a que o PAN possa contribuir para esta transformação. Apenas é necessário que o demissionismo proverbial dos nossos concidadãos seja deixado para trás e queiram dar uma oportunidade ao nosso país e … a eles próprios.
Não querendo chocá-la, informo-a que na Holanda também há grandes franjas da população que se dedicam a insanidades como jogos de futebol e programas de “vidas reais” (muitos até originam de lá graças a Endemol).
Tem toda a razão, Miguel e agradeço o comentário. O facto é que na Holanda já se conquistaram direitos (para pessoas, para animais e para a natureza) que para muitos de nós ainda parecem utopias… e já agora por «insanidades» queria referir-me à atenção dada a esse tipo de programas que se transformaram na ocupação, a tempo inteiro, dos tempos de lazer…
Estimada Manuela,
Espero sinceramente que o PAN logre obter a sua primeira representação parlamentar e possa, no contexto da próxima legislatura, pugnar pela alteração de uma lei eleitoral por demais anacrónica.
Longe de minha morada original (a 500 Km, sensivelmente), não poderei votar, porque, enquanto freelancer-sem-papéis (e quantos assim não há por este país?) e com muito pouco papel-moeda em carteira, não estou em condições de vencer a distância em causa este fim-de-semana. Como sabe, não posso votar antecipadamente porque não tenho um contrato de trabalho.
Para quando a possibilidade de um cidadão exercer o seu direito de voto em qualquer mesa que seja – e/ou online?
É que há abstenção e abstenção – não somos todos farinha do mesmo saco.
Obrigada pelo comentário e por tocar numa ferida que poucas ou raras vezes é destapada. Os tais portugueses sem voz… porque o sistema se recusa a ouvi-los. Um abraço e até breve. Num futuro à nossa humana medida. MG