A Fitch mantém a República Portuguesa ao nível de lixo, por vários motivos. Entre eles porque acredita que o défice estrutural, que conta para efeitos do Tratado Orçamental, deverá subir. “E isso deve-se em grande medida ao aproximar das eleições legislativas de 4 de Outubro, que reduziram a margem para medidas orçamentais adicionais”.
Duas, ou melhor, três notas sobre as considerações da Fitch acerca da República Portuguesa.
A primeira é que não devíamos reconhecer qualquer tipo de legitimidade a agências de notação, como a Fitch, que contribuíram ativamente para a bolha no mercado subprime que veio a causar a crise financeira de 2008. Houve fraude, especulação, mau julgamento, para não dizer mais, e a Fitch, como muitas outras, tem responsabilidades.
Em segundo lugar, é inaceitável que, no espaço de uma semana, tenhamos duas agências de rating a fazer considerações sobre o impacto das eleições legislativas nas avaliações. É uma interferência, e um factor de condicionamento.
Por último, é interessante ler o que diz a Fitch, nem que seja como forma de compreender e antecipar o comportamento/pensamento de quem, de facto, tem mandado no nosso país: só não há medidas orçamentais adicionais porque estamos em período eleitoral. Acontece, e isto já sou eu a falar, que as eleições vão passar, e tanto PS como PSD/PS se comprometeram com as metas do défice estrutural estabelecidas no Tratado Orçamental.
(peço desculpa a todas e todos que ainda não tiveram resposta aos comentários que aqui deixaram. Vou tentar fazê-lo o mais brevemente possível.)
(há um artigo sobre o défice em falta que não foi esquecido)
Não se esqueça de publicar comentários, Mariana. Em nome da democracia.
Tiago,
Como prometido, estão todos publicados. Em nome da democracia, pois claro.
Bom dia Mariana
Tomando atenção às 3 notas por si explanadas, relativamente às considerações que a Fitch teceu quanto à República Portuguesa, permita-me um apontamento.
Concordo plenamente com o que diz no 1º ponto. E se me permite a expansividade, a falta de legitimidade inicia-se no princípio de cobrança de valores para emissão de rating – o que traduzido em corrente português não mais é que o pagamento do analisado ao analisar para a obtenção de um julgamento sobre o risco associado à economia e a respectiva probabilidade de incumprimento das responsabilidades de CP e MLP em diferentes tipologias de dívida – e acaba na falta de ética de agências que durante 20 anos mantiveram em AAA certas economias caracterizadas por uma falta de robustez notável, justificado primeiramente pela sua relevância politico-estratégica e posteriormente pela tentativa de encobrimento da ausência de capacidade analítica dos seus técnicos ou a sua subversão a certos interesses, notável particularmente aquando das primeiras e graves incongruências entre o rating associado a uma determinada tipologia de dívida e a sua evolução nos mercados.
Agora convém notar. Não creio que seja inaceitável que uma agência de rating teça considerações sobre o impacto das eleições legislativas no rating da República. Aliás, sejamos honestos, é das poucas atitudes sensatas que as agências de rating têm tomado e é de um ponto de vista de aferição de risco, a posição adequada. Eu não preciso tratar a Mariana com modéstia intelectual, por isso é fácil perceber que tal como numa empresa, em que a mudança dos elementos que compõem o corpo de administração detém um impacto directo sobre as perspectivas de MLP da mesma, o mesmo se sucede num Estado Soberano. Tal como quando mudamos o piloto de um carro de F1 ou o comandante do barco, mesmo fazendo uso de iguais condições técnicas, a garantia dos mesmos resultados, com base no registo histórico, não é caucionada.
Podemos sim é argumentar quanto à legitimidade destas agências, que no momento em que mais urgiu a sua tomada de responsabilidades, se esconderam e cederam ao interesse de privados e actualmente, incongruentemente com a sua actuação passada, pautam a sua acção por uma contingência mais apurada.
De resto, novamente como mencionei no meu anterior comentário, parabenizo a formulação da sua tese, mesmo que, conforme demonstra o meu texto, não concorde com a integralidade da mesma.
Cumprimentos,
Rui
(ps: considerem este comentário e não o anterior)
Caro Rui,
Obrigada pelo comentário. Note que as eleições num país democrático não são comparáveis às alterações nos Conselhos de Administração das empresas. Isto porque, entre outras razões, o princípio das eleições é precisamente a universalidade do sufrágio. Para que isso aconteça, é necessário que estejam reunidas uma série de condições, nomeadamente o princípio da igualdade de cada voto. Assim mesmo, sem pressões ou ingerências.
Bom dia Mariana
Tomando atenção às 3 notas por si explanadas, relativamente às considerações que a Fitch teceu quanto à República Portuguesa, permita-me um apontamento.
Concordo plenamente com o que diz no 1º ponto. E se me permite a expansividade, a falta de legitimidade inicia-se no princípio de cobrança de valores para emissão de rating – o que traduzido em corrente português não mais é que o pagamento do analisado para obter um julgamento sobre o risco associado à economia e a probabilidade de incumprimento das responsabilidades de CP e MLP em diferentes tipologias de dívida – e acaba na falta de ética de agências que durante 20 anos mantiveram em AAA em algumas economias com uma falta de robustez notável em todos os sentidos, justificado seja pela sua relevância politico-estratégica e posteriormente pela tentativa de encobrimento da ausência de capacidade analítica dos seus analistas ou a sua subversão a determinados interesses, notável particularmente aquando das primeiras e graves incongruências entre o rating associado a uma determinada tipologia de dívida e a sua evolução nos mercados.
Agora convém notar. Não creio que seja inaceitável que uma agência de rating teça considerações sobre o impacto das eleições legislativas no rating da República. Aliás, sejamos honestos, é das poucas atitudes sensatas que as agências de rating têm tomado e é de um ponto de vista de aferição de risco, a posição adequada. Eu não preciso tratar a Mariana com modéstia intelectual, por isso é fácil perceber que tal como numa empresa, em que a mudança dos elementos que compõem o corpo de administração tem um impacto directo sobre as perspectivas de MLP da mesma, o mesmo se sucede num Estado Soberano. Tal como quando mudamos o piloto de um carro de F1 ou o comandante do barco, mesmo fazendo de iguais condições técnicas, a garantia de resultados, com base no registo histórico, não é garantida.
Podemos sim é argumentar quanto à legitimidade destas agências, que no momento em que mais urgiu a sua tomada de responsabilidades, se esconderam e cederam ao interesse de privados e actualmente, incongruentemente com a sua actuação passada, pautam a sua acção por uma contingência mais apurada.
De resto, novamente como mencionei no meu anterior comentário, parabenizo a formulação da sua tese, mesmo que, conforme demonstra o meu texto, não concorde com a integralidade da mesma.
Cumprimentos,
Rui
Prezada M. Mortágua:
A primeira das suas notas não é sobre as recentes considerações da Fitch, já que de seguida se segue um comentário sobre a crise de 2008, quando as agências de rating falharam e até prevaricaram.
A segunda, sobre a (tentativa de) interferência no nosso País, é acertada. Se tem consequências, aí é difícil perceber. Estão a fazer o jogo da coligação?…
E a terceira (que contraria um pouco a sua primeira nota, já que está a atribuir credibilidade à Fitch), é uma constatação do que é, de facto, uma peça de teatro com dois elencos iterativos, que dura há 41 anos.
Talvez aí, nesses 41 anos cénicos, é que esteja a resposta para a nossa classificação de “lixo”.
É que também são 41 anos de encenações em negociações Internacionais.
Tem razão a Mariana quando diz que as agências de notação não deveriam merecer a credibilidade que aparentemente têm. Mas a realidade é que o sistema financeiro ainda continua a valorizar as suas classificações. E não podemos fazer nada em relação a isso. Vivemos no mundo real, não no mundo ideal.
Tem razão a Mariana quando diz que as agências de notação deveriam abster-se de fazer declarações durante o período de campanha eleitoral. Mas isso é uma regra de etiqueta de cumprimento meramente opcional. Na parte do mundo onde há liberdade de expressão estas coisas podem acontecer, tal como também pode acontecer que partidos tentem passar a ideia que as desigualdades em Portugal têm vindo a aumentar quando o coeficiente de Gini atual é até mais baixo do que antes da crise financeira.
Bom dia dra. Mariana,
Quando tive conhecimento deste blog, não hesitei em segui-lo, nas suas publicações.
Creio até que com a sua liderança, os resultados do seu partido seriam diferentes. Mas quanto a isso, o seu tempo chegará.
Relativamente á análise do rating, teço duas considerações.
A 1a é que elas condicionam.o mercado e gostemos ou não delas tenos que viver com elas. Fazendo uma analogia ao futebol, é como os árbitros para o Sporting, todos os jogos tomam decisões erradas que condicionam os resultados, no entanto há que viver com eles.
A 2a é que depois de tantos anos de austeridade os resultados são mediocres. Está na hora de pedir satisfações a quem depois de impôr sacrificios aos outros pague pela sua incompetência.
Cordialmente,
Nuno Barros
É espantoso como é que políticos portugueses, eleitos, com responsabilidades legislativas, não parecem compreender como funcionam as agências de rating. Mais surpreendente é estas opiniões serem vindas de pessoas formadas em economia.
As agências de rating têm datas específicas para emitir notações e respectivas justificações para os vários instrumentos que avaliam. Neste caso, a dívida portuguesa é reavaliada em periodos concretos definidos muito antes dos calendários eleitorais.
Países inclusive pagam às empresas de rating para que a sua dívida seja avaliada e consequentemente possa ser colocada no mercado (não em todos os casos, mas em alguns).
Adicionalmente, as empresas de rating não têm nenhum monopólio efectivo, a sua importância é só aquela que o mercado lhes dá. Não há qualquer impedimento para a criação de novas empresas de rating diferentes das actuais.
Finalmente, é natural, compreensível e incontornável que as agências de rating façam apreciações políticas pois estas têm violentíssimos impactos na qualidade do crédito dos países.
Noutras eleições, nunca me senti representado. Agora, ao ler e ouvir todas as tuas opiniões, as intervenções no Parlamento e na Comissão de Inquérito ao BES, juntamente com o programa eleitoral do Bloco de Esquerda, sinto-me finalmente representado. E isso deve-se muito ao teu trabalho, da Catarina Martins e de todo o Bloco de Esquerda. Com 21 anos, nunca me irei esquecer que o meu primeiro voto útil será no Bloco de Esquerda!! Mais um excelente artigo, mais uma prova do conhecimentos que tens sobre estes assuntos. E, de facto, os mercados não devem mandar na nossa liberdade de escolher quem queremos que nos represente. É a política do medo, mas nem todos se deixam levar por essa chantagem. Continua o teu grande trabalho, Mariana!! És o verdadeiro exemplo de que devemos lutar por aquilo que acreditamos, por uma política para as pessoas e não para mercados, e um exemplo de uma grande mulher, como das restantes que estão no Bloco, sobretudo, pelo mérito que têm!!
Ponto prévio: As agencias de rating são empresas que vendem informacao a investidores para reduzir assimetria de informação e os ajudar a fazer melhores decisões de investimento.
Paragrafo 1) Comentario acertado. Agencias de rating falharam em toda a linha na crise do subprime potencialmente devido a conflitos de interesse. Ficaram a perder essencialmente os investidores de subprime. Legitimidade? Bem, isso deixo aos investidores que usam os ratings para avaliar isso. Se os investidores continuam a exigir ratings sempre que ha uma nova emissão de divida imagino que estes ainda tenham alguma utilidade.
Paragrafo 2) Inaceitavel? Bem, inaceitavel seria que as agencias de rating voltassem a nao cumprir o seu papel e esperassem pelo final das eleições para emitirem recomendacoes aos seus clientes. Imaginem que um partido da esquerda radical (BE) estava na calha para formar governo. Sera que podíamos pedir à Fitch para renunciar ao seu dever fiduciário e não recomendar aos seus investidores para vender divida portuguesa sabendo de antemao que se o BE subir ao governo haverá um default? Claro que nao.
Paragrafo 3) Concordo. E é triste que nao se continue no caminho da responsabilidade durante este periodo de eleicoes.
Cara Mariana Mortágua
Consegue suportar melhor a 1ª nota sem recorrer ao velho método de q tudo o que vem da américa é conspiratório?
Na 2ª nota, é “inaceitável?” O que aconteceu “Je suis Charlie Hebdo?” Todos se podem exprimir menos as agências de rating? Quando um premio nobel da economia critica as opções austeritárias do governo já vale?
3ª nota: como sugere financiar o défice se nem a europa nem os mercados aceitarem a sua flexibilização? Se pretende rejeitar o T.O. porque não encara a possibilidade de sair da UE? Consegue apresentar algum exemplo de sucesso da rejeição das normas europeias sem culpar os outros membros como aconteceu com a Grécia?
Carta Aberta
É bom que não se esqueçam
Os Português são um povo honesto e trabalhador, mas um pouco masoquista, chegado que é a hora de escolher a 4 de Outubro, um novo governo convém não esquecer que temos sido governados por um bando de ladrões, corruptos que se tem governado á nossa custa.
Corte nas pensões, desemprego, saúde, educação e na justiça, os governos que nos tem governado desde o 25 de Abril só tem protegido os banqueiro e as grandes empresas, tem sido um aumento de impostos brutal sem que cada um de nós tenha contribuído para isso, e não tenhamos visto o corte nas PPP, nas fundações algumas delas de vão de escada, como recentemente um empresto da Caixa Geral de Depósitos a uma fundação que não existe, nas mordomias dos políticos, nas suas reforma exageradas, na perspicuidade dos políticos com as empresas, na educação corta-se na escola publica e dá-se dinheiro aos colégios privados, na saúde dá-se benesses aos hospitais particulares.
Cabe a cada um de nós saber escolher o próximo governo, quanto maior for o equilíbrio de forças no parlamento, mais justa será a democracia.
A TROICA só sérvio para defender a banca privada e estamos nós a pagar por isso, acredito que um dia veremos os que nos levaram a ruina sentados no banco dos réus e ai sim será feita justiça.
4 de Outubro escolham bem os nossos carrasco, povo masoquista
Há outros dois aspectos ,muito interessantes na noticia da Fitch – primeiro, as duas agencias divergiram o que só demonstra que aquela ideia, 6 economistas 7 opiniões está correcta e que vai contra aquela tendência pros e contras e muito coligação de que só há um pensamento único correcto na economia e que é o do governo.. segundo a fitch pronunciou-se depois dos números do novo banco serem revelados com a consequente subida do défice de 7.2 do ano passado e manteve o rating em lixo contrariamente a SP que antes desses dados subiu o nosso rating, o que significa que esses 7.2 vão ter consequências negativas para a economia portuguesa, como qualquer pessoa normal entende e percebe e suspeita.