O PS tem feito muito pouco para entender as razões de quem, depois destes quatro anos, manifesta vontade de votar na Coligação ou permanece na indecisão de saber se nela vota ou não. De certa forma, o PS parece acreditar que essas pessoas ou não viveram cá, ou não perceberam a difícil situação por que todos passaram e passam, ou são vítimas de uma poderosa estratégia de comunicação. Ora, o primeiro passo para não ganhar eleições é não conseguir perceber as razões do eleitorado, mesmo que delas discordando. E o segundo passo é considerar que quem ainda não foi convencido por nós é porque ainda não nos ouviu suficientes vezes. E esses têm sido os passos do PS.
O PS focou-se (legitimamente, claro) no discurso do governo da austeridade, dos cortes, do desemprego, da emigração, da perda de rendimentos, sem perceber que quem vota na PàF (ou quem está na indecisão de nela votar ou não) passou e viveu tudo isso. É apesar disso que vota PàF ou está indeciso, não é por estar iludido ou por ter aderido a uma qualquer narrativa.
Não percebendo isso, e não subindo nas sondagens, o PS força o discurso, e repete-o à exaustão, como se não acreditasse que fosse possível haver gente a votar na Coligação depois destes últimos quatro anos. Como se essas pessoas estivessem alienadas de uma realidade evidente, ensombrada por uma qualquer malévola estratégia de comunicação (a Coligação, que nunca soube comunicar devidamente, passou de um momento para o outro a ser a mestre rainha), o que equivale (não sendo essa a vontade, é essa a sensação) a tratar as pessoas com paternalismo. Sem surpresa, as sondagens não mostram grandes diferenças.
Enquanto não perceber que uma fatia importante dos eleitores percebe aquilo que Hollande, Renzi e Tsipras só perceberam quando chegaram aos seus governos, o PS continuará à margem das preocupações do eleitorado que decide estas eleições. O PS não tem de concordar com ele, evidentemente, como se não houvesse outra alternativa. Tem apenas de percebê-lo, para lhe dar resposta. E já vai tarde.
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