A propósito dos números do défice, o primeiro ministro enredou-se em explicações sobre o montante injetado no Novo Banco. Aparentemente, não só agora vale a pena ter défices, como, de acordo com a atabalhoada lógica de Passos Coelho, quanto maiores melhor. Rendem juros, garante Passos Coelho .
A esse propósito, quatro pequenas notas sobre os juros que o empréstimo supostamente “rende”:
- O Fundo de Resolução está a pagar juros pelo empréstimo do Estado, verdade. Mas o Estado também está a pagar juros à troika pelo empréstimo que usou para emprestar ao Novo Banco. A haver algum ganho, e é bastante discutível que exista, estará na diferença entre um e o outro, e essa é mínima.
- Mas, mesmo que houvesse um ganho, o que temos é uma mera operação contabilística dentro do perímetro das administrações publicas: sai do Estado, através do Fundo de Resolução, para o Estado, tesouro. E se argumentam que o défice é meramente contabilístico, então não vale a pena dizer que os juros não são;
- Se o Novo Banco não for vendido, e os bancos não devolverem o empréstimo, como já se sabe que não vão, os 3900 milhões ficarão como dívida publica, que precisará de ser refinanciada, e será paga por todos nós;
- Para lá de tudo isto, o dinheiro empatado no Novo Banco é dinheiro que não está a ser usado para apoiar as pessoas e investir na economia. Isso sim, seria uma aplicação lucrativa para o país. Lembremo-nos que, afinal, o objetivo do Estado não é gerir uma carteira de investimentos financeiros, esse era o papel do Grupo Espírito Santo e veja-se no que deu.
Mas estas são apenas as contas sobre o impacto do défice de 2014. Mas o mais relevante, o descalabro das contas públicas no primeiro semestre de 2015 (agora sem a desculpa do BES), fica para uma nova nota amanhã.
Bom dia Mariana
Depois de ter lido o seu artigo de opinião, gostaria apenas de fazer um apontamento.
Efectivamente é interessante um estado ter défices. Aliás, já surge uma nova corrente académica que se questiona sobre a obrigatoriedade de apuramento de excedente primário como condição para o crescimento económico. Obviamente não vou colocar aqui um jargão maçador, mas resumidamente tudo tem a ver com o custo oportunidade e o incentivo. Um défice primário e subsequentemente orçamental, podem por um lado sustentar uma politica de cobrança fiscal muito deficitária, mas por outro lado pode funcionar como incentivo à economia (o que efectivamente não é uma verdade em Portugal) considerando que um Estado como meio de aquecer a economia, prescide de uma parte da receita fiscal (necessária para atingir um ponto de break-even) para que os agentes económicos utilizem esses fundos no aumento dos índices de produção e consumo privado (o que a MLP se reflecte no crescimento das receitas com IVA e com IRC sem para isso alterar as taxas de referência).
De resto era apenas isto. A sua restante tese está efectivamente bem fundamentada. Mas um aparte: o fundo de resolução da banca terá sempre que obrigatoriamente ficar com esses fundos. Um Estado coerente, iria fazer deste suprimento do BES, caso venha a ser reembolsado, uma transferência para o fundo de resolução. No entanto, importa notar novamente, que um Estado coerente, que antes de criar este fundo, negociou junto dos bancos este formato (que previa que em apenas, na melhor projecção, 20 anos existiria a almofada de capital necessária) deveria impor um critério de amortização a cumprir precisamente nesse horizonte de 20 anos indicado.
Cumprimentos
Não sei que motivos movem a sua ideia mas, gostaria de lhe perguntar, para que serve um fundo descapitalizado?
Quem fala do que sabe e o faz com clareza e frontalidade é sempre um gosto de ler. Longa vida e muita força para esta luta tão difícil contra a mentira grosseira e o roubo despudorado.
Cumprimentos.
Análise muito interessante Mariana.
Diga-me uma coisa, á luz da informacao do seu texto, que lhe parece do artigo de Luís Villalobos hoje no Público onde analisa a situacao do financiamento de bancos por parte dos contribuintes (os €2,000 de Jerónimo de Sousa).
Atenciosamente,
Pedro
Cara Mariana
Como economista a senhora deveria saber melhor. Sendo o fundo de recapitalizacao uma entidade independente integrada no banco de Portugal, a qual baseia a sua actividade nas contribuições extraordinárias das entidades financeiras (logo sem nenhuma contribuição directado estado excepto a CGD que e discutível ), o conceito de juro (aparte do diferencial entre o pago a troika / outra qualquer via de financiamento usada para a injecção ) existe e seria facilmente calculado.
Por tal acho o seu artigo de opinião descabido, despropositado e enganador. Se a ideia é a crítica gratuita entao que alegasse que se o fundo de resolução e parte integrante do mecanismo futuro de prevenção a casos como os que vimos no passado, entao a descapitalização do fundo devido ao pagamento de juros é sim algo bastante mais preocupante do que as insinuações que profere.
Cumprimentos
É verdade, mas o povéu quer lá saber disso. Quer é festa… com papas e bolos. E vão mais 4 anos para o tecto.
Para um vendedor da banha da cobra pode.
amanha fica sempre longe demais e em Portugal parece que a ajuizar pelas sondagens ninguém liga a estas brilhantes analises. Solução radical – apagar as luzes e o ultimo a sair que feche a porta.