Hoje o PAN andou pelo Vale do Tua, tendo sido o único partido que aceitou o convite endereçado a todos os outros pela Plataforma Salvar o Tua, que visa alertar mais uma vez para o ‘crime’ ambiental, patrimonial e social que ali decorre, graças à construção da barragem. Para citar João Joanaz de Melo, um dos responsáveis pela plataforma, é este ‘ um caso emblemático do que não se deve fazer em matéria de política energética’.
Há muito tempo que o PAN defende a manutenção da linha do Tua e o desmantelamento desta barragem inútil, e mal querida por todos, a começar pelas próprias populações locais. É uma das nossas bandeiras e uma das grandes acções de campanha do PAN que há dois anos financiou o documentário belíssimo e pungente que aqui se pode ver:
E foi assim que hoje, a comitiva do PAN desceu do comboio na estação do Tua, em Carrazeda de Ansiães, e foi a pé até à zona da obra, onde se pode observar o paredão de betão a ser construído no rio, e as infraestruturas do estaleiro que se estende pelas encostas. Bem como a linha de caminhos-de-ferro desactivada por causa desta barragem que, a ser concretizada, irá arrasar um dos patrimónios mais selvagens que existem em Portugal, afetando espécies em vias de extinção, prejudicando o turismo, e destruindo “imensos terrenos agrícolas”. Nas palavras de André Silva, porta-voz do PAN:
“O que está aqui em causa é de facto todo um património cultural, ecológico, social e económico. Esta barragem não deveria existir, tal como outras que estão ser construídas no [no âmbito do] Plano Nacional de Barragens”. [em «Esta barragem não deveria existir», TVI notícias]
Como é bom de ver, a questão ultrapassa o apego nostálgico ao ‘Bilhete-postal’ paisagístico, que obviamente não é tido em consideração por quem da e na natureza apenas extrai números e cálculos economicistas. Neste caso, privilegiando unicamente a indústria do betão, já que os benefícios do «futuro» radioso deste exagero de barragens, criadas a eito e com uma agenda estranha, são altamente duvidosos. Na prática, populações locais e a população em geral, não ganham nada com isso. Pelo contrário, perdemos todos, menos os que, nestas e noutras circunstâncias similares, auferem os lucros.
E se partirmos do particular para o geral, a questão, para usarmos uma palavra que ainda é mal entendida, é HOLÍSTICA. O que significa que, na sua essência e na sua prática, toca tudo e todos. Há só uma Terra, e isto pelo menos é consensual. Sendo uma só, não é indiferente à vida e à saúde das criaturas que a habitam a exploração abusiva, intensiva e insana do nosso Planeta, tratado como se os seus recursos fossem ilimitados para satisfazer uma sociedade de consumo insaciável, porque insaciáveis são os objectivos de lucro de um capitalismo neoliberal e suicida.
Portanto, o que tem um pequeno rio, uma lindíssima paisagem património da Humanidade, uma linha de comboio, fundamental às populações, mas mesmo assim condenada à morte, num país tido por periférico, a ver com tudo isto? Tudo.
É holístico. Fixem esta palavra.
Muito Bom!
A barragem de Foz Tua irá produzir 0,1% da energia total produzida e custará 650€ a cada família nos próximos anos.
O Plano Nacional de Barragens denota 2.000 anos de atraso ecológico. As mega-barragens que bloqueiam a totalidade do caudal de um curso de agua são um crime ambiental e uma demonstração de testosterona e ignorância. As imensas albufeiras desperdiçam imensa agua por evaporação e o corte dos percursos naturais, nomeadamente de peixes migratórios acaba por matar todo o ecossistema. Já os romanos faziam imensas barragens (não, não era para produzir electricidade) todas elas de pequena dimensão. Desviavam uma pequena parte de um rio, deixando a vida fluir normalmente e faziam muitas pequenas albufeiras. Estas estavam onde a água era necessária e obviamente desperdiçavam muito menos agua. Em toda a Europa este modelo de mini barragens está a substituir os monstros que os nossos governos PSD/PS/CDS aprovam exclusivamente para poderem adjudicar a sua construção aos empreiteiros seus amigos que depois lhes dão lugares nos conselhos de administração das empresas subsidiárias. Enfim, é triste que a pura corrupção destrua um ecossistema único
Fantástico! Obrigado Manuela.
Não podemos permitir que a natureza seja destruída só “porque sim”.
Precisamos de protegê-la sob pena de ser a nossa sobrevivência posta em causa. Precisamos de um/a provedor/a da natureza ! Obrigada Manuela, pelas reflexões sempre tão acessíveis e urgentes!
O Plano Nacional de Barragens não passa de uma operação financeira. As novas barragens tinham por objectivo servir de suporte às Eólicas. Com a ligação da Rede eléctrica nacional às Redes eléctricas europeias este projecto passou a ser um absurdo.
Nem mais! Um autêntico FLOP!
Concordo em absoluto! Queimar carvão é muito mais amigo do ambiente!
Espectáculo essa resposta.
Só mostra o calibre de inteligência do autor.
É como quem diz… comer açúcar em excesso faz mal” e o outro responde ironicamente “e passar fome é que é bom não é?”.
Dois errados não fazem um certo.
Se calhar não sabe é que já temos barragens a mais para o que necessitamos.
Carlos P,
75% da energia eléctrica produzida no Brasil vem de barragens. Em Portugal são 30% (cerca de metade de toda a energia renovável). Acresce que as barragens reversíveis são a única forma viável de acumular outras formas de energia renovável. Ou seja mais barragens permitem mais fontes de energia não previsíveis (e.g. eólica). Não temos “barragens a mais para o que necessitamos”.