Livro
“Jaime Ramos tinha uma paixão suave pelo arroz de sardinhas. Passava três, quatro, cinco meses à espera do momento ideal para prepará-lo e poder convidar Ramiro, que, finalmente, tinha deixado de beber Blue Curaçao. A espera começava em Fevereiro, aproximadamente, inventando desculpas para não esperar pelas sardinhas mais gordas que ia buscar à Póvoa de Varzim, no final de Junho, depois do São João.” É assim que para deleite dos leitores começa o capítulo 26 de O Colecionador de Erva, novo romance de Francisco José Viegas, o oitavo dedicado às aventuras do inspector Jaime Ramos.
Além de cebolas “frescas e sumarentas”, tomate “vermelho e maduro”, pimentos, louro e alho, o arroz leva sardinhas sem espinhas e com limão. Confesso que nunca comi um arroz de sardinhas mas o escritor assegura-nos que é muito bom. Para Francisco José Viegas, os melhores sítios para se comer um arroz de sardinhas são a Póvoa de Varzim e a casa da sua avó (“que fazia um arroz de sardinhas magnífico” e que ele aprendeu a fazer com ela).
O editor Manuel Alberto Valente está sempre a pedir-lhe para fazer um livro com as receitas de Jaime Ramos. Francisco José Viegas gostava de o fazer e acredita que terá agora mais tempo para pensar nesse projecto antigo da publicação das receitas que Jaime Ramos tem confeccionado ao longo dos anos e que é uma cozinha “muito confortável e muito simples”, como diz Viegas. Há um outro momento culinário em O Colecionador de Erva: acontece num dia de chuva e de insónia do inspector que mora no Porto.
“Jaime Ramos gostaria de saber dançar — convidaria Rosa para uma viagem até Buenos Aires, como acontece a alguém da sua idade sonhar pelo menos uma vez na vida. Tinha de passar a pedir mais café colombiano. Tinha de passar a comer cereais sem açúcar. Tinha de passar a ser outra pessoa qualquer.” E é nesse momento do romance que a personagem confecciona uma tortilha com ovos, chouriço, cebolas, salsa e batatas salteadas, para afastar, ao pequeno-almoço, as preocupações da noite mal dormida por causa das investigações do assassínio de dois imigrantes russos e do desaparecimento de uma jovem de 20 anos oriunda de uma família tradicional do Minho. E das preocupações que lhe dá Olívia, a novata na equipa. Ainda não há nenhum filme nem nenhuma série com Jaime Ramos mas já há guiões em Portugal e no Brasil. Quem sabe se daqui a algum tempo, além das receitas de Jaime Ramos, teremos um filme. Do outro lado do Atlântico, o escritor Francisco José Viegas também já recebeu uma proposta para a adaptação ao cinema do romance Lourenço Marques que ali se chama Luz do Índico.
(Recomendação publicada na revista 2 no dia 21 de Abril de 2013)
Pingback: Bijuterias Limeira Um blogue de Isabel Coutinho – Público.pt | Bijuterias Limeira