Manga nasce em Lisboa


Interview Mari Yamazaki avec Olivier Falaix… por PFBMangas

Ciberescritas
Isabel.Coutinho@publico.pt

Quando O Japão é um lugar estranho, de Peter Carey, foi publicado na colecção de literatura de viagem da Tinta-da-China não tive tempo para o ler. Mas regressei a ele esta semana para compreender melhor o mundo da BD japonesa. Este livro nasceu da vontade de o escritor australiano compreender o universo do seu filho adolescente apaixonado pela cultura japonesa através da manga e anime (cinema de animação japonesa).

Este regresso aconteceu por ter descoberto a Waribashi, revista online portuguesa sobre cultura japonesa (tradicional e moderna), anime e manga que existe desde 2007. O que me chamou a atenção na revista que pode ser folheada, número a número, gratuitamente, online, foi uma entrevista, já antiga, a Mari Yamasaki, a autora de Thermae Romae quando vivia em Lisboa.

Mari Yamasaki estava em Portugal desde 2003 (agora vive em Chicago) e, em Junho de 2010, explicava à Waribashi que a ideia para a Thermae Romae, que tem por tema os banhos públicos (na Roma Antiga e no Japão actual), lhe tinha surgido porque tinha saudades de viver em casas com banheiras adequadas a demorados banhos de imersão. Desde que tinha deixado de viver no Japão, aos 17 anos, Yamasaki só tinha vivido numa casa com banheira. Todas as outras tinham polibã com chuveiro. “Mudámos de casa várias vezes mas, mesmo aqui em Portugal, não há banheira. As pessoas dizem-me que, mesmo tendo uma banheira não têm o costume de tomar banho de imersão. Perguntei-me por que será… e perguntei ao meu marido italiano também. Mas ele não consegue compreender a necessidade de se ‘tomar banho na banheira’. Para ele, o chuveiro é suficiente”, disse a Yukina Fujioka, que a entrevistou.

A história de Thermae Romae passa-se em 128 d.C, em Roma, durante os últimos anos do imperador Adriano. Um arquitecto especializado em banhos públicos, Lucius Modestos, vê o seu projecto ser recusado. Decide relaxar para as termas romanas e descobre uma fenda na banheira através da qual é transportado para os banhos públicos do Japão da actualidade. A BD tem sentido de humor e mostra o choque entre civilizações. Memórias de Adriano, de Yourcenar, serviu-lhe de inspiração.

Thermæ Romæ foi publicado no Japão pela primeira vez em 2008, em episódios, na revista Monthly Comic Beam. O primeiro volume desta manga saiu em Dezembro de 2009 e a série, que deverá ficar concluída em seis volumes, já vendeu naquele país mais de 5 milhões de exemplares. Em 2010 a autora recebeu dois prémios importantes, o Grande Prémio da Manga (Manga Taisho) e o Prémio Osamu Tezuka. Os livros estão traduzidos para língua inglesa e francesa. A BD foi entretanto adaptada para uma série animada de televisão e o mês passado estreou no Japão o filme.

Mari Yamazaki nasceu em Tóquio, em 1967. Quando tinha 14 anos foi viajar sozinha para França e Alemanha. Nessa viagem, na gare de Bruxelas, conheceu um senhor italiano que achava que ela tinha fugido de casa e a obrigou a escrever uma carta quando regressasse ao Japão. Passaram a trocar cartas e mais tarde, em 1984, quando ela tinha 17 anos foi estudar belas-artes para Florença. Hoje, Mari Yamazaki é casada com o neto desse senhor italiano que conheceu quando era adolescente. Uma história que já lhe deu pano para mangas.

Revista Waribashi

http://www.waribashi.pt/

Mari Yamazaki blogue

http://moretsu.exblog.jp/

(crónica publicada no caderno Ípsilon a 12 de Maio de 2012)

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