À la Dickens no século XXI

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Ciberescritas
Isabel.Coutinho@publico.pt

Não sabemos se Jennifer Egan ouviu a escritora escocesa Denise Mina e o editor britânico Dan Franklin, editor da Vintage, há uns meses, dizerem em Berlim que se Charles Dickens vivesse na actualidade estaria a twittar o tempo todo.
O que sabemos é que a norte-americana autora de A Visita do Brutamontes (ed. Quetzal), Prémio Pulitzer para Ficção 2011, pegou numa das suas personagens deste seu livro, Lulu, transformou-a numa espia e fez com ela Black Box, uma história de 8500 palavras que publicou no Twitter.

Jennifer aliou o gosto pelos romances do século XIX e a homenagem que quis fazer a Dickens (que publicava romances capítulo a capítulo, em fascículos), com o fascínio por uma das ferramentas de comunicação mais poderosas do século XXI, a rede social Twitter. E assim nasceu uma história curta sobre uma espia futurista e sua missão, segundo aquilo que foi sendo registado no seu diário.

Esta história de ficção científica, Black Box foi tweetada através do Twitter da revista The New Yorker (@NYerFiction) durante dez dias, dia a dia, minuto a minuto, das 21h às 22h (hora de Nova Iorque) até sábado passado. Na segunda-feira chegou às bancas um número especial dedicado à Ficção Científica que tem contribuições de vários escritores – William Gibson, Ray Bradbury, China Miéville, Junot Díaz, Margaret Atwood, Úrsula K. Le Guin, Jonathan Lethem, Charles Simic, etc, uns andavam mais desaparecidos do que outros e está lá publicado também este conto de Egan que fez furor nas últimas semanas (a revista pode ser adquirida online ou na versão digital para iPad).

Os editores paginaram o conto de forma especial para dar ao leitor uma sensação de leitura através do Twitter. Parece que se estão a ler haikus: frases de 140 caracteres que fazem sentido por si só e são, por vezes, muito poéticas. Lidas em sequência narram uma história, seca, sem palavras a mais. A primeira frase tweetada é o primeiro parágrafo do conto: “People rarely look the way you expect them/ to, even when you’ve seen pictures.” (As pessoas raramente se parecem com a ideia que fazemos delas/ mesmo quando vimos fotografias delas).

Na secção Page-Turner do site da The New Yorker a escritora, licenciada em Literatura inglesa, conta o que a levou a contar uma história através da rede social. Queia ver se seria capaz de escrever uma ficção cuja estrutura permitisse que fosse divulgada em pequenos fascículos. “Claro que esta ideia não é nova, mas é substancial por causa da proximidade que há em se chegar às pessoas através dos seus telemóveis e de se ser surpreendido pela poesia que pode acontecer em 140 caracteres”, explica Jennifer Egan que escreveu este conto aos pedaços num caderninho japonês com cada página dividida por oito rectângulos.

“No início a história tinha mais do dobro e demorei mais ao menos um ano, para conseguir cortar o texto e acertar todo aquele material de maneira a que ele se transformasse no que é hoje o conto Black Box“.

Black Box

http://www.newyorker.com/fiction/features/2012/06/04/120604fi_fiction_egan

(crónica publicada no caderno Ípsilon de 8 de Junho de 2012)

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