Vamos lá à cata de livros

Ciberescritas
Isabel.Coutinho@publico.pt

No Cata Livros há um Pátio dos Desatinos, um Sótão da Livralhada, uma Fala de Estar, um Salão Salamaleque, um Hall de entrada, uma janela de papel, um Cozinhório e uma Laboratinha. Quando por lá andei a navegar, um corvo bateu as asas e avisou: “Foste enganado. É um beco sem saída. Craaa”. Tive de voltar para trás. Voltar a entrar, clicar em imagens e ver tudo a andar à roda. Fui a sítios que não vão dar a lugar nenhum e descobri frases como esta -“há palavras que são amigas e outras dão-se muito mal umas com as outras” -, saída da cabeça de Manuel António Pina.
Foi na Fala de Estar que encontrei estes dizeres do autor do Pequeno livro de desmatemática, graças a quem, aos sete anos, mudei a minha forma de ver o mundo. Aconteceu quando li as suas histórias que falavam de um país onde as pessoas tinham as luvas nos pés e os sapatos nas mãos (era 1973 e a revolução ainda não tinha acontecido em Portugal) ou de um Menino Jesus que não queria ser Deus. Não sei por onde anda o meu exemplar da primeira edição de “O país das pessoas de pernas para o ar”, onde Pina contou essas histórias. Só sei que o livro tinha desenhos do João Botelho e que ainda não tive coragem de comprar a reedição (feita pela Tcharan com novas ilustrações) para não confrontar as minhas memórias com a realidade.
Manuel António Pina conta no portal Cata Livros (em vídeo, áudio e por escrito) que quando era pequeno descobriu um truque para quando tinha pesadelos: acordava de noite e escrevia-os. “Ao escrever aquilo ia perdendo o medo porque começava a preocupar-me com as palavras. Queria dizer o que me tinha acontecido, descrever um sentimento qualquer, não me ocorriam as palavras e andava à procura delas. A certa altura o pesadelo já estava mais pequenino e em primeiro plano as palavras. Quando acabava de escrever, apagava a luz, virava-me para o outro lado, adormecia outra vez e o medo já se tinha ido todo embora ficava no papel”, explica.
Passa quase um ano desde o nascimento do Cata Livros, um site dirigido aos leitores entre os oito e os 15 anos, projecto da Gulbenkian e da Casa da Leitura com coordenação de João Paulo Cotrim. Por isso, no arquivo da Fala de Estar podemos agora deliciar-nos com várias confissões de autores. Luísa Ducla Soares conta que escreve como quem se mete numa floresta: nunca sabe onde vai parar. O objectivo do Cata Livros é “usar a Internet para aproximar jovens leitores de um conjunto de títulos essenciais da literatura para infância e juventude, com destaque para a produção nacional, num modelo que, sem perder o rigor que o saber científico vem dedicando às questões da leitura, assenta no carácter lúdico e interactivo das narrativas e desafios propostos”, explicam na apresentação que fazem na sessão Lê antes de usares.
Os textos do Cata Livros obedecem ao novo acordo ortográfico e o portal está optimizado para o Magalhães. Por agora, no Salão Salamaleque, onde mês após mês se pode folhear na íntegra um livro ou ouvi-lo lido por alguém, está disponível “O Limpapalavras e Outros Poemas”, de Álvaro Magalhães (Asa).
Associados ao livro do mês existem no portal Cata Livros jogos e desafios para serem resolvidos pelos leitores depois de terem lido o livro com atenção. E por fim, no Sótão da Livralhada há livros que dão filmes.

Cata-livros
http://catalivros.org/

(crónica publicada no Ípsilon no dia 23 de Março de 2012)

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