Mãos à obra


(fotografia retirada do site Ler em Português)

Ciberescritas

Isabel.Coutinho@publico.pt

Uma das falácias do ensino do português no estrangeiro é a ideia de que se está a ensinar a luso-descendentes, a língua materna e não uma língua estrangeira. Mas o que a realidade nos mostra é que, por exemplo, nos Estados Unidos, em muitas famílias de luso-descendentes as crianças já não ouvem sequer os pais a falar português em casa. O português passou a ser a língua dos avós, transformando-se para estes jovens numa língua de herança, deixando de ser uma das suas línguas maternas.
A descrição de uma aula de português num liceu de Newark, nos Estados Unidos da América, em que esses alunos que não falam português em casa são obrigados a ler “O Crime do Padre Amado”, de Eça de Queirós (1875), parece-nos uma coisa de outro tempo mas não está tão afastada da realidade como se possa pensar.
Como será de esperar, esses alunos soletram as palavras do romance que estão a ler mas não têm ferramentas linguísticas para perceber o sentido do texto do século XIX. É por isso que ideias e iniciativas como o concurso “Ler em português” são de louvar. Se é verdade que “só se ama o que se conhece”, como disse na apresentação deste projecto Fernando Pinto do Amaral, comissário do Plano Nacional de Leitura, há um desequilíbrio muito grande entre aquilo que um jovem português sabe sobre os Estados Unidos e a sua cultura e o que um norte-americano sabe sobre Portugal.
Foi para se esbaterem essas diferenças que nasceu o concurso “Ler em português”, que promove o intercâmbio entre alunos e professores portugueses e alunos e professores norte-americanos, que são utilizadores do português como língua materna e língua não materna. A iniciativa, que já tem um site, serve para difundir as culturas portuguesa e norte-americana entre os participantes. “Ler em português” nasceu de um protocolo estabelecido entre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura e permitirá divulgar a Língua Portuguesa: promovendo a leitura e a escrita em português através da utilização de diversos recursos informacionais.
Tal como escrevem no site, onde está disponível o regulamento e a ficha de inscrição, esperam com esta iniciativa que “a grande atracção que a cultura norte-americana exerce sobre os jovens portugueses poderá ser compensada por um maior conhecimento da realidade cultural portuguesa pelos jovens norte-americanos, através da utilização activa das redes que hoje nos fazem comunicar e vencer as distâncias geográficas.” O tema da edição de 2011/12 é “Liberdade e segurança numa sociedade plural”.
Um outro concurso, “Japão Passado e Presente” foi lançado pela embaixada do Japão em Portugal, pelo Plano Nacional de Leitura e pela Rede de Bibliotecas Escolares. Destina-se a premiar sites e blogues que divulguem a civilização e a cultura nipónicas, concebidos e elaborados por equipas de alunos dos 2º e 3º ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário. Tem por objectivo “divulgar a civilização e cultura do Japão, fomentar a amizade entre os dois países, promover a leitura e a escrita em diversos suportes informacionais, desenvolver as competências da literacia da informação e da literacia digital e a promover o cosmopolitismo e a troca de saberes.” Para concorrer os alunos guiados por um professor devem preencher um formulário que está disponível na Internet e é-lhes pedido que façam uma reconstituição de episódios históricos (biografias, textos do património oral, intercâmbios culturais), articulando a linguagem tecnológica com a das expressões artísticas (literatura, cinema, música, pintura, escultura, teatro, dança, outras) e utilizando imagens, vídeos, “podcasts”, áudio, ou outros suportes. Alunos e professores, mãos à obra!

Ler português
http://www.lerportugues.net

Japão, Passado e Presente
http://rbe.min-edu.pt/np4/japao.html

http://www.pt.emb-japan.go.jp/

(crónica publicada no caderno ípsilon, na sua versão para iPad, de 16 de Dezembro de 2011)

Deixar um comentário