Ler de outra maneira

 

(Fotografia de Rui Gaudêncio)

Aqui, ler é o que interessa. Jornais, revistas e livros, mas de outra forma. Como se, com o tablet da Apple, tudo estivesse mais perto, mesmo quando está longe. Dicas de aplicações para boas leituras. Por Isabel Coutinho

A culpa é do iPad.
Desde que comprei o tablet que a Apple lançou no final do ano passado em Portugal, não consigo parar de ler. Voltei a ler revistas como há muito não lia. Deixei de ler jornais no computador. Cancelei as assinaturas dos jornais e revistas que ainda lia no Kindle, o aparelho da Amazon com ecrã de tinta electrónica perfeito para se ler debaixo de um sol escaldante e não cansar os olhos.

Finalmente, desisti de fingir que não me irritava profundamente cada vez que tinha de ler no Kindle ou no Sony Reader um ficheiro PDF que para lá tinha copiado. Agora, leio, refastelada no sofá, um livro digital quase tão rapidamente como se o estivesse a ler impresso em papel.

Não sou caso único. Na terça-feira passada, a Apple divulgou os números de vendas do seu tablet. Desde Abril de 2010, quando foi lançado nos EUA, já foram vendidos 13,8 milhões de aparelhos. Também na semana passada, a revista Publishers Weekly divulgou as conclusões de uma sondagem realizada em Novembro pelo Codex Group: 67 por cento dos utilizadores de iPad afirmaram que usavam o iPad para ler e 19 por cento respondeu que esperava vir a fazê-lo em breve.

Trinta e seis por cento dos livros comprados pelos utilizadores deste tablet no mês anterior à sondagem foram ebooks, livros digitais. Destes, 40,3 por cento foram comprados através da aplicação do Kindle (via Amazon) e 36 por cento foram adquiridos através da iBookstore, a livraria online da Apple.

Muitas das conferências que se realizaram na última Feira do Livro de Frankfurt eram dedicadas às aplicações para o iPad. São essenciais para ler ou fazer qualquer outra coisa neste aparelho. Podem ser gratuitas, pagas ou ter um modelo misto, cujo descarregamento é grátis mas nas quais se pagam, por exemplo, os conteúdos. Todas são descarregadas através da loja de aplicações da Apple.

Existem muitas aplicações iPad que podem ser utilizadas tanto no iPhone ou no iPod Touch quanto no iPad. Aqui vamos falar das versões feitas especialmente para o iPad, aproveitando toda a dimensão do ecrã do aparelho.

Brasil, Brasil

Tentar comprar jornais brasileiros em quiosques portugueses é quase uma missão impossível. O inverso, comprar jornais portugueses no Brasil, também é verdade. Mas graças ao iPad tenho lido os três principais jornais brasileiros na íntegra dia a dia. É de aproveitar enquanto é grátis. Com as aplicações Folha de São Paulo e O Globo é possível fazer o download das edições diárias destes jornais gratuitamente. Esta benesse é por um tempo limitado – não especificam até quando, mas avisam que no futuro a leitura das edições diárias será paga. É preciso ter paciência. Os ficheiros demoram a ser transferidos para o iPad, mas depois pode-se ler o PDF do jornal sem se estar ligado à Internet. O jornal e os seus cadernos diários e revistas de fim-de-semana ficam arquivados na nossa biblioteca.

Para ler, é o esquema do costume: desliza-se o dedo para a esquerda e a direita do ecrã e folheiam-se as páginas; quando se toca no ecrã duas vezes seguidas, amplia-se ou reduz-se o conteúdo exibido. É ainda possível fazer pesquisas por palavras-chave em todo o jornal, ler secção por secção e escolher de acordo com os ícones de todas as páginas numa barra.

Se o iPad estiver ligado à Internet, é possível ler as notícias de última hora, tal como quando se está nos sites dos jornais. O jornal O Estado de São Paulo também tem uma aplicação especial para o iPad, o Estadão Tablet, mas optaram por uma filosofia diferente. Para se ler a versão impressa do jornal, é necessário ter o iPad ligado à Internet, sendo as páginas descarregadas uma a uma.

Podemos aceder também à secção de últimas notícias e a uma galeria com fotos do dia.

Quanto a revistas brasileiras, as minhas dicas vão para a Veja, que deixa descarregar uma versão para se experimentar e que custa 3,99 euros por edição (mais barato do que quando se compra a versão impressa nos quiosques portugueses). No que toca à Isto É, a sua aplicação é gratuita e dá acesso à última edição e ao arquivo de números anteriores.

Vive la France!

Várias revistas francesas têm já aplicações especiais para o iPad. A Les inRocKuptibles pode ser comprada, edição a edição, por 2,50 euros.

A Paris Match custa 1,59 euros por semana e deixa-nos descarregar para a biblioteca do iPad um número especial com Michael Jackson na capa. A leitura é acompanhada por alguns extras: vídeos nos anúncios, trailers de filmes, ficheiros áudio, fotogalerias, etc. O Courrier International também permite descarregar uma edição de demonstração gratuita e, depois, cada edição por 2,99 euros.

A edição da Le Figaro Magazine custa 1,59 euros por semana.

Quanto a jornais, a aplicação para a leitura do Libération tem um bónus: podem descarregar-se seis edições do jornal gratuitas (em PDF, com todos os cadernos) e ler em qualquer altura sem se estar ligado à Internet.

A partir desse período, é necessário ser assinante do diário francês (12 euros/ mês) ou optar por comprar edições avulsas (cada a 0,79 euros). O Le Monde funciona tal e qual como o Libé, mas só a primeira edição pode ser descarregada gratuitamente (a minha não trazia os cadernos, só o corpo principal do jornal). No arquivo, acede-se às últimas 30 edições. O preço para ler a edição do dia é 0,79 euros e 15 euros para as assinaturas mensais. Tem ainda um serviço de notícias de última hora.

Banca virtual

Outra maneira de ler revistas no iPad é através do Zinio, uma banca de jornais virtual. Muitas das revistas internacionais não têm ainda aplicação própria mas podem ser adquiridas através do Zinio (National Geographic, L’Express, MacWorld, PCMagazine, Esquire, NewScientist, Hello!, Wallpaper, etc). Quando me inscrevi no Zinio, recebi durante três meses a edição da Marie Claire inglesa, cuja capa de Dezembro era a actriz Emma Watson. De vez em quando ela mexia-se, pestanejava e quase nos sorria. Ao percorrer a revista, com um toque de dedo, é possível rodar a imagem de um sapato ou de uma carteira. Clicar num link e ir parar à loja para se adquirir determinada peça de roupa que foi fotografada para o shopping da revista.

A Vanity Fair optou por um sistema diferente da maioria das revistas. A aplicação que se descarrega para o iPad é paga logo à partida. Custa 3,99 euros. Depois, podemos fazer o download grátis de uma edição e comprar a revista mensalmente por 2,99 euros, com direito a conteúdo exclusivo para o iPad como galerias de fotos.

Também as norte-americanas semanais New York e The New Yorker têm aplicações (3,99 euros por edição) – no caso da última, esta semana volta a ter a capa feita pelo português Jorge Colombo e um vídeo mostra-nos o ilustrador a desenhá-la.

Já a portuguesa Visão custa 0,79 euros por edição. Para decidir se se quer comprar, dão-nos acesso ao sumário de cada número e pode descarregar-se gratuitamente uma edição especial para tablet com vídeos, crónicas e fotogaleria.

Livros

Para ler e comprar livros, é indispensável ter a aplicação Kindle, que permite que os ebooks comprados na loja da Amazon sejam lidos no iPad. Ler BD no iPad, por exemplo, é entrar numa outra dimensão e para isso basta descarregar a aplicação da Marvel e um livro gratuito para experimentar.

As crianças, por seu turno, vão adorar Alice – o texto é o original, em inglês, de Lewis Carroll, e as ilustrações e a forma como podemos interagir com elas mostram que o universo dos livros infantis nunca mais voltará a ser o mesmo. Há uma versão grátis para abrir o apetite; a versão completa custa 6,99 euros.

Antigamente quando se comprava um ebook (em formato ePub com Digital Rights Management/DRM da Adobe Editions) em livrarias online como a Sony, a Borders, a Fnac francesa ou a portuguesa Mediabooks, ele não podia ser lido no iPad a não ser que se quebrasse ilegalmente o DRM. Uma dica: as aplicações iFlow Reader e Bluefire Reader são gratuitas e permitem a leitura desses livros no iPad, mantendo-se intacto o DRM do arquivo. Basta usar o mesmo nome de utilizador da conta da Adobe Digital Editions. No caso do Bluefire Reader, os PDF são adicionados através da ligação do iPad ao iTunes. O mesmo acontece com as aplicações iAnnotate PDF (custa 7,99 euros) e permite sublinhar e riscar em várias cores entre outras coisas e com o pdf-notes (é grátis).

Mas o meu brinquedo preferido no iPad é o Penultimate. Custa €0,79. Vale todos os cêntimos. Com os dedos escrevemos no iPad, quase, quase, como se estivéssemos a escrever no papel. Podemos escolher que tipo de papel, que cor, que traço usar. Guardar cadernos inteiros ou enviar folhas por email.

Deixa qualquer um maravilhado, é o regresso à infância.

(publicada na revista Pública, de 23 de Janeiro de 2011)

Esta entrada foi publicada em Ebooks, Internet, iPad com os tópicos . Guarde o href="http://blogues.publico.pt/ciberescritas/2011/02/06/ler-de-outra-maneira/" title="Endereço para Ler de outra maneira" rel="bookmark">endereço permamente.

6 comentários a Ler de outra maneira

  1. Prezada Isabel Coutinho
    Gosto muito de ler, mas confesso que sou totalmente leiga nessa tecnologia de leitura em tablets e aqui vai a minha primeira pergunta para você: Tablet e Ipod é a mesma coisa???
    Eu poderia ler um jornal ou a minha revista Crescer por exemplo nesses aparelhos? E como funciona, eu pago uma assinatura?
    E em relação a livros interativos infantis como A Menina do Narizinho Arrebitado, também posso ler nesses aparelhos ou para cada tipo de leitura é indicado um aparelho diferente?

    Eu gostaria de aprender a ler usando esses recursos e gostaria de contar para minha filha de 2 anos histórias usando esses aparelhos. Lógico que pretendo incentiva-la a ler livros impressos também. Me sinto um peixe fora dágua por não entender nada desse assunto e você é tão esclarecida.
    Também queria dicas de onde comprar e quais os melhores. Não tenho muito capital para investir. Agradeço de coração se puder me responder enviando uma mensagem para o meu e-mail pessoal: simonevalganon@hotmail.com
    um abraço para você e boa leitura.
    Simone Valganon

  2. Ando a pensar comprar um iPAD. Mas parece que já este ano, talvez em Abril, surgirá a versão 2. Nem sei se valerá a pena esperar, mas também penso que quando tiver um, a leitura de livros e revistas será a função principal que lhe darei. Obrigado pelo seu post esclarecedor, Isabel.

  3. Pingback: Ler no iPad « Ler ebooks

Deixar um comentário