Uma viagem no tempo

Ciberescritas
Isabel.Coutinho@publico.pt

Não podia ser de outra maneira. O Real Gabinete Português de Leitura no centro do Rio de Janeiro fica numa rua que dá pelo nome de Luís de Camões. A experiência que se tem ao olhar para aquela fachada e ao entrar naquela biblioteca não é comparável a nada. Até quando estranhamente não se sente coisa nenhuma. Eu explico. Há duas semanas, depois de ter olhado longamente para o edifício, subi aquelas escadas, passei pelo porteiro que me deu as boas vindas e transpus com enorme expectativa a porta do famoso edifício projectado pelo arquitecto português Rafael da Silva Castro. Mas tudo o que imaginei durante anos que iria sentir quando ali entrasse não aconteceu. A portugalidade parecia não se abater sobre mim. Aquilo que imaginara gigante afinal tinha dimensão humana.

Talvez aquele dia não fosse o dia.

Então comecei a ouvir o som de passarinhos. E do centro do Rio de Janeiro, enfiada num edifício de 1887, fui transportada para o passado. De repente já não estava no Rio de Janeiro, estava na Ilha do Fogo, em Cabo Verde, e depois estava em São Tomé e Príncipe, e ao mesmo tempo na biblioteca do Convento de Mafra… Eu estava no Real Gabinete Português de Leitura como se não estivesse.

Agora, que definitivamente já lá não estou, ando às voltas no “site” que o Real Gabinete Português de Leitura tem desde Maio na Internet. E, oh la la, acabei de folhear as 324 páginas de “Amor de Perdição” [ms.autógrafo] no programa que disponibilizam no “site” oficial, depois de me ter registado como utilizadora. Depois saltei para o “Dicionário de Língua Tupy” de Gonçalves Dias (que não consegui decifrar) ou para a letra desenhada de “Memorias de El Rey Dom Sebastiam”. Agora vou à procura dos textos do Padre António Vieira.
(Nota de navegação: é necessário clicar com o rato no canto da página e depois arrastar para se mudar de página, tal como quando se lê um livro em papel; para se ver melhor basta utilizar o “zoom”).

“A pesquisa no arquivo permite a consulta do acervo digitalizado de Manuscritos Avulsos e Códices do Real Gabinete Português de Leitura por parte de qualquer usuário do nosso sítio. Assim como, também, a Pesquisa na Biblioteca disponibiliza toda a informação referente aos registos existentes no nosso acervo bibliográfico”, explicam no “site”. Podem ser consultadas actas (por lá escrevem “atas”), códices (é o grupo onde se encontra o manuscrito de Camilo Castelo Branco), manuscritos avulsos e o livro de homenagem a Eduardo de Lemos (que foi presidente do Real Gabinete).

É também possível consultar o acervo bibliográfico. Já estão digitalizados mais de 1500 documentos; a Fundação Calouste Gulbenkian financiou o projecto.

Um dos “links” deste “site” leva-nos para outra página onde se pode fazer um passeio virtual pelo Real Gabinete em 3D.

Assim, com a ajuda da Internet, a viagem no tempo que comecei naquele final de tarde na Rua Luís de Camões, no centro do Rio de Janeiro, prolongou-se até Lisboa.

Real Gabinete Português de Leitura

http://www.realgabinete.com.br

(crónica publicada no suplemento Ípsilon de 27 de Agosto de 2010)

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