É só o princípio

Ciberescritas

Isabel.Coutinho@publico.pt

“Vê-lo não é a mesma coisa que ter um na mão”. Esta foi a frase que Steve Jobs repetiu na apresentação que a Apple fez nos EUA para lançar o novo “tablet” iPad, computador que tem um ecrã táctil e teclado no monitor. Um iPod Touch em tamanho gigante que servirá para navegar na net, enviar e-mails, jogar, ouvir música, ver filmes, ler jornais, trabalhar e ler livros. Chegará a Portugal no final de Março.

Ler livros é a parte que interessa aqui. E quanto a isso, logo na apresentação a desilusão começou. Tudo ia bem quando Jobs mostrou a nova aplicação para o iPad, o iBooks, que permitirá comprar e descarregar livros para os ler no novo aparelho. A aplicação estará disponível na loja de aplicações da Apple e depois dará acesso a uma outra loja, a iBookstore, onde poderão ser adquiridos os livros. Por aquilo que se viu o preço de cada e-book poderá variar entre os cinco e os 15 dólares. E, tal como o Sony Reader, o aparelho da Apple utiliza o formato aberto ePub e não um formato proprietário como o do Kindle. Para já a Apple conseguiu chegar a acordo com cinco editoras americanas: Penguin, HarperCollins, Simon & Schuster, Macmillan e Hachette Book Group. O único senão é que a loja e a aplicação iBooks só estarão disponíveis e a funcionar nos EUA.

Esta foi a primeira desilusão. Rapidamente se começou a discutir na web esta restrição. Nem sequer países como a Austrália ou o Reino Unido, onde se fala inglês, terão disponível o iBooks. Pelo menos para já. Tal como acontece com os filmes. Certamente quem tem um iPhone ou um iPod Touch já percebeu que as séries e os filmes que são vendidos na iTunes norte-americana não podem ser comprados nas outras regiões do mundo.

Quanto a este ponto, a Amazon e o seu Kindle, o aparelho para ler livros que funciona com um ecrã de tinta electrónica, não sofreu danos. Os leitores que vivem fora dos EUA continuarão fieis à loja do Kindle, na Amazon.com, onde podem comprar os seus e-Books a 9,99 dólares e continuar a descarregá-los para o Kindle, o iPhone, o iPod ou o iPad através da aplicação que a empresa de Jeff Bezos disponibiliza no iTunes, o Kindle for iPhone.

Quem já leu um e-book num ecrã de tinta electrónica, disponível também no Sony Reader, no iLiad e no Cooler, sabe que cansa menos os olhos do que ler no ecrã LED dos produtos da Apple. Também sabe que ler na cama num iPhone é uma luta constante para evitar que o ecrã mude da vertical para a horizontal sem o querermos.

O iPad poderá vir a ganhar aos outros quando um e-book deixar de ser uma simples cópia do livro impresso. Aquilo que o especialista no futuro do livro, Mike Shatzin, considera ser algo que mudará a nossa experiência de ler um livro impresso: ler o livro mas também aceder a “links”, ver vídeos, ouvir ficheiros de som. Quando se entrar nesse campeonato, então Steve Jobs terá com certeza toda a razão. Não quereremos voltar a pegar nos outros e-readers, se eles entretanto também não evoluírem.

iPad
http://www.apple.com/ipad/

TeleRead: Bring the E-Books Home
http://www.teleread.org/

(crónica publicada no suplemento Ípsilon, do jornal PÚBLICO de 6 de Fevereiro de 2010)

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