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Ciberescritas
Isabel Coutinho@publico.pt
“São 78 anos de idade, você acha muito?”, perguntava, em 1981, uma jornalista do “Jornal Hoje” a Carlos Drummond de Andrade num dos vídeos, disponível no You Tube e no “site” oficial do poeta que a editora brasileira Record acaba de lançar. A resposta não se fez esperar: “Não, não é bem nem muito, a gente não tem a ideia de que o tempo passou não. (…) Se eu olhar para trás foi extremamente rápido, uma coisa curiosa isso não dá para a gente sentir a idade não, dá para sentir que o negócio foi muito veloz, um processo demasiado rápido, como se eu tomasse um avião supersónico.” Drummond de Andrade morreu em Agosto de 1987 e há 25 anos que a sua obra está no catálogo da Record.
Para o assinalar foi lançado este “site” onde se podem consultar todos os títulos de Drummond publicados na Record, bem como fotos e vídeos onde o autor aparece.
Mas a grande novidade é a secção Rádio Drummond, onde podemos ouvir alguns dos seus poemas musicados.
Quando se entra ouve-se, por exemplo, o famoso poema “No meio do caminho tinha uma pedra” em versão “Drum’n’bass” (“Nunca me esquecerei que no meio do caminho/tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/no meio do caminho tinha uma pedra”). E também o divertido “Quadrilha” (“João amava Teresa que amava Raimundo/ que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/ que não amava ninguém.// João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,/ Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,/ Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes/ que não tinha entrado na história.//”) Este não é o primeiro “site” que surge na Internet dedicado ao poeta. Em 1995 foi lançado Drummond na era digital (“o primeiro website de um autor brasileiro”) e dois anos depois foi colocada na Internet a primeira versão interactiva do livro “O Avesso das Coisas”.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902, em Itabira do Mato Dentro, estado de Minas Gerais.
Estudou no Colégio Anchieta da Companhia de Jesus de onde foi expulso em 1919 por “insubordinação mental” e no ano seguinte mudou-se com a família para Belo Horizonte. Em 1924, Drummond começou a corresponder-se com outro poeta, Manuel Bandeira, e nesse ano conhece Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade no Grande Hotel de Belo Horizonte. Estes detalhes biográficos estão disponíveis na secção Linha do Tempo, numa cronologia onde se fica a saber um pouco sobre a vida de Drummond de Andrade. No dia 31 de Janeiro de 1987 escreveu o seu último poema, “Elegia a um Tucano Morto”, e a filha, Maria Julieta, morreu com um cancro no dia 5 de Agosto desse ano. O poeta escreveu nessa altura no seu diário: “Assim terminou a vida da pessoa que mais amei neste mundo.” Doze dias depois, Carlos Drummond de Andrade morria com problemas cardíacos.
Além das fotos, dos vídeos, das referências aos livros com alguns poemas que podem ser lidos na íntegra, da Rádio Drummond, irão ser acrescentadas entrevistas e poesias declamadas pelo próprio Drummon. Quem quiser pode descarregar para o ecrã do computador “papéis de parede” com imagens do poeta com uma vida supersónica.
Carlos Drummond de Andrade
http://www.carlosdrummonddeandrade.com.br/
(crónica publicada no suplemento Ípsilon de 2 de Outubro de 2005)