A maior rede de sebos do Brasil

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Ciberescritas

Isabel.Coutinho@publico.pt

Andava eu há uns meses na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro, à procura de um livro de João Guimarães, “Tutaméia (Terceiras estórias)” – o último que ele publicou em vida e que reúne narrativas curtas originalmente escritas para serem publicadas em revistas -, quando, depois de já ter dado voltas em várias estantes, me dirigi a um simpático livreiro.

Ele voltou à prateleira onde estavam juntos uma série de livros de João Guimarães Rosa editados pela editora Nova Fronteira e também não o encontrou.

Depois de ter ido verificar a disponibilidade no catálogo em computador, veio com a notícia de que esse livro estava esgotado na livraria e também no editor. Ao ver a minha cara de desilusão, o livreiro disse-me que não me preocupasse e que procurasse o livro em “sebos”.

Alguém já me tinha explicado que os “sebos” no Brasil são os “alfarrabistas”, porque se não a nossa conversa ter-se-ia certamente transformado num diálogo muito bizarro.

Quando lhe expliquei que partiria para a Europa no dia seguinte, aconselhou-me o portal Estante Virtual, que reúne num único lugar o acervo de centenas de sebos brasileiros que podem ser consultados ao mesmo tempo. E hei-de ficar-lhe eternamente agradecida.

Escreveu num papelinho o endereço que trouxe comigo e assegurou-me que enviavam livros para o exterior.

Acabei por encontrar “Tutaméia”, esquecido num armazém de uma livraria de Lisboa mas já utilizei os serviços da Estante Virtual, comprando um livro esgotadíssimo em Portugal. Encontrei-o num sebo de São Paulo, a Flanarte Livros, que faz parte dos 1400 sebos disponíveis no portal e funcionou na perfeição.

O único senão foi que o livro demorou a chegar a Portugal mais tempo do que estava estipulado. Mas a culpa não foi do livreiro, que colocou a encomenda registada no correio logo no dia em que recebeu o dinheiro por transferência bancária, através da Western Union.

Esta semana lembrei-me da Estante Virtual porque ela esteve presente na XIV Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro que decorreu na semana passada. O seu criador e director André Garcia mandou um “email” aos clientes a avisar que, nas vésperas de comemorarem quatros anos (a 20 de Outubro), quiseram “transcender a virtualidade” e “literalmente” materializaram a Estante Virtual num stand do Pavilhão Verde da Bienal do Rio.

“Tente imaginar: uma estante gigante, com quatro metros de altura por cinco metros de largura, que irá abrigar livros vindos de sebos de todo o Brasil”, diziam.

E avisavam que lá estariam também livreiros de sítios diferentes do Brasil, para “consultoria literária”, e ainda computadores para quem quisesse aceder à Estante Virtual (uma espécie de “país inteiro de sebos ao alcance do ‘mouse'”) e procurar “os milhões de livros que permaneceram em solo, nas outras 254 cidades onde há livreiros conectados ao portal.” Até Outubro, querem ter no portal sebos de 300 cidades. E se os nossos alfarrabistas se juntassem a eles? Então é que cantaríamos em coro (coloquem vocês o sotaque): “Livro difícil não existe mais”.

Estante Virtual

http://www.estantevirtual.com.br/

Livraria da Travessa

http://www.travessa.com.br/

Editora Nova Fronteira

http://www.novafronteira.com.br/

(crónica publicada no suplementop ípsilon de 25 de Setembro de 2009)

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2 comentários a A maior rede de sebos do Brasil

  1. Boa tarde! Procuro desesperadamente dois livros “Paisagens e Sêres”,
    “As florestas: páginas de memórias”, de Augusto Frederico Schmidt. Será que existe algum exemplar deste lado do Atlântico (Portugal)? Tenho procurado nos índices on-line das mais variadaas bibliotecas, alfarrabistas, etc, mas até agora nada! Alguém faz a caridade de me dar um link????
    Será que o poderei adquirir do Brasil (já tentei mas em vão: nem resposta de vários sites de sebos).
    Mts cumprimentos, obrigado,
    manuel cardoso

  2. A Estante Virtual foi uma verdadeira bênção quando surgiu. Principalmente para quem está longe dos principais centros urbanos, ter acesso ao acervo de sebos do Brasil todo foi algo fenomenal. Porém, como quase tudo nessa vida, o vinho começou a virar vinagre, pelo menos num aspecto: preços. Infelizmente os livreiros tomaram a postura de usar a EV como referência para fixação de preços – por regra, tomando sempre os mais elevados. Disso acabou que hoje é fácil achar no site livros usados com preços maiores que seus pares novos. E definitivamente não há mais “moscas-brancas”, como chamamos por aqui aquelas oportunidades ímpares de negócio que unem ótima qualidade a preço baixo. Veja, um livro que comprei há 2 anos por R$ 10,00 hoje não se encontra por menos de R$ 40,00. Uma pena.

    De qualquer forma, permanece a rica possibilidade de se ter acesso a obras esgotadas num clicar de mouse. Um viva à Estante Virtual e um puxão de orelha nos livreiros!

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