Ciberescritas
Isabel.Coutinho@publico.pt
Ainda os utilizadores do Kindle, o aparelho para ler livros em formato electrónico da Amazon, não tinham recuperado da polémica de Junho, quando se descobriu que alguns dos livros em formato electrónico ficavam bloqueados depois de um determinado número de cópias para outros aparelhos, já a Amazon tornava a meter a pata na poça.
Vamos por partes. Tudo começou no dia em que Dan Cohen comprou um novo iPhone 3GS, depois de já ter um iPod touch e um Kindle. Quando tentava sintonizar todos os aparelhos e colocava os livros que tinha comprado percebeu que nem todos os seus ebooks estavam a ser copiados para a aplicação Kindle que tinha instalado no novo telemóvel. Nesses recebia a mensagem: “Não pode ser feita a transferência para o aparelho seleccionado”. Telefonou para o apoio a clientes da Amazon e percebeu que “há sempre um limite para o número de vezes que se pode descarregar um livro”.
Disseram-lhe: “Às vezes, são cinco ou seis vezes mas podem ser só uma ou duas.
Quando se atinge esse limite é necessário comprar o livro outra vez para se conseguir fazer o ‘download’.” O problema é que nada disto está explicado na loja da Amazon.com quando se está a comprar um e-book. Dan Cohen ainda foi informado de que em alguns casos só o editor do livro é que sabe quantas vezes é que a obra pode ser copiada.
No dia seguinte a saga continuou. Dan comprou o livro de novo e conseguiu descarregá-lo (a Amazon devolveu-lhe o dinheiro). Mas teve nova conversa com outro senhor da Amazon, que o informou que as coisas não eram bem como lhe tinham dito. Explicou-lhe que se podem descarregar livros da Amazon um número ilimitado de vezes para os aparelhos onde podem ser lidos, mas que há um número limitado de aparelhos (máximo de cinco ou seis) para os quais se podem copiar simultaneamente os e-books. E disse-lhe também que são os editores que decidem qual é esse limite.
Conclusão: para já, quem compra um e-book na Amazon não tem forma de saber quantas vezes o pode copiar (dizem no entanto que estão a tratar disso).
Na sexta-feira a Amazon voltou a meter a pata na poça.
Nesse dia centenas de pessoas que tinham comprado “1984” e “O Triunfo dos Porcos” de Orwell para ler no Kindle, ligaram o aparelho e perceberam que essas obras tinham desaparecido das suas bibliotecas.Nos EUA o Kindle funciona com uma ligação sem fios e a Amazon, tal como envia para o aparelho as assinaturas de jornais e blogues e os livros, também sabe-se agora pode tirar de lá os ficheiros sem avisar. Devolvendo o dinheiro aos clientes. Escândalo! Além de ficarem sem os livros, os clientes ficaram sem as anotações que tinham feito. A Amazon desculpou-se dizendo que os livros que estavam à venda na loja eram ilegais. E que logo que se apercebeu disso, actuou. Isto pode acontece porque a Amazon permite que os editores coloquem directamente e-books à venda online. Já se descobriram cópias ilegais de Harry Potter e de livros de Stephenie Meyer e Ayn Rand. A Amazon vai agora arranjar maneira de bloquear no “site” as cópias ilegais em vez de retirar cópias que foram adquiridas por clientes que não sabiam que eram ilegais. A procissão ainda vai no adro.
Dan Cohen na Gear Diary
http://www.geardiary.com/2009/06/19/kindles-drm-rears-its-ugly-head-and-it-is-ugly/
http://www.geardiary.com/2009/06/21/kindlegate-confusion-abounds-regarding-kindle-download-policy/
http://www.geardiary.com/2009/07/17/kindlegate-blows-up-in-amazons-face/
David Pogue
http://pogue.blogs.nytimes.com/2009/07/17/some-e-books-are-more-equal-than-others/
(Crónica publicada no suplemento Ípsilon, do jornal PÚBLICO no dia 24 de Julho de 2009)