Recenseamento da população de cegonha-branca

A cegonha-branca (Ciconia ciconia) é talvez a espécie mais conhecida das 17 que formam a família das cegonhas (Ciconiidae), nidificando em quase toda a Europa, no Médio Oriente, Centro-Oeste Asiático, Nordeste de África e África Austral. É uma espécie que goza de grande popularidade em grande parte da sua área de distribuição, sendo que, desde tempos remotos, a cegonha-branca adquiriu de forma particular a atenção do público, contribuindo para o desenvolvimento da consciência no que toca À importância da conservação. Talvez por isso a cegonha-branca tenha sido uma das primeiras espécies da avifauna que foi alvo de recenseamentos coordenados internacionalmente.

O primeiro recenseamento mundial de cegonha-branca, com origem na Alemanha, ocorreu em 1934 e, como consequência da II Grande Guerra Mundial que assolou a Europa, só em 1958 se realizou o segundo censo mundial. A partir de 1974, ano em que decorreu o terceiro censo mundial, os censos mundiais passaram a realizar-se regularmente de dez em dez anos, tendo ocorrido até ao momento 6 censos internacionais (1934, 1958, 1974, 1984, 1994/95 e 2004/2005).

Em Portugal, a cegonha-branca foi a primeira espécie alvo de um recenseamento da população nidificante a cobrir a maioria do território português. O primeiro levantamento foi realizado entre 1958 e 1959 e teve por base a realização de inquéritos. Apesar de na época se terem verificado enormes dificuldades na cobertura de todo o território nacional, o número de ninhos recenseados foi de 3490, número, contudo, certamente inferior aos que na realidade existiam.

O novo recenseamento nacional, que teve como base a realização de inquéritos com a confirmação in loco, decorreu entre 1974 e 1977. Foram contabilizados 1930 ninhos neste levantamento organizado pela primeira vez pelo Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves (CEMPA), entidade posteriormente incluída na orgânica do Instituto da Conservação da Natureza (ICN), atualmente designado de Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Finalmente em 1984, realizou-se o primeiro censo nacional abrangente, prospetando-se todo o território nacional onde existiam registos de ninhos e/ou habitat disponível para Cegonha-branca. Obteve-se assim um nível de cobertura das populações nacionais de cegonha-branca muito razoável, tendo-se recenseado 1533 ninhos ocupados.

Em 1994, o número de ninhos ocupados recenseados sob a coordenação do ICN foi de 3302, tendo-se verificado a inversão da tendência de regressão populacional que se havia registado durante algumas décadas.

Em 2004, realizou-se o VI Censo Mundial de Cegonha-branca (2004/2005). Em Portugal, o CEMPA e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) promoveram e coordenaram o V Censo Nacional da População Nidificante de Cegonha-branca. Durante este censo foram detetados 8205 ninhos da espécie, entre os quais 7684 ocupados e 521 vazios. Tal como observado nos censos anteriores, a maioria dos ninhos ocupados localizam-se no sul do País, nomeadamente nos distritos de Beja, Évora, Setúbal, Santarém e Portalegre.

Passada uma década a cegonha-branca foi alvo de mais um censo nacional, realizado em simultâneo em vários países europeus. Os resultados preliminares indicam que o número de ninhos voltou a aumentar no nosso país, para os 11690 ninhos ocupados, de 12307 ninhos identificados, o que representa um aumento de cerca de 4000 ninhos no espaço de uma década.

Podem ver mais detalhes sobre os resultados de 2014 na notícia do Público: http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/ninhos-de-cegonhas-em-portugal-aumentaram-50-em-dez-anos-1673511

Dárcio Sousa & Ana Teresa Marques, Bio3

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