Onde chegará “People Mountain People Sea”, de Cai Shangjun, o “filme surpresa” da edição de 2011? Para já a sessão em que a imprensa o viu ficou marcada por uma ameaça de incêndio na sala. Algum pânico, gente a sair às escuras, sessão interrompida (o júri, Darren Aronofsky a presidir, David Byrne e os outros, entretanto já se tinha volatilizado quando as luzes se acenderam). E o cheiro a queimado. Que é, e isso torna a coisa mais impressionante, o próprio “cheiro” do filme: tudo está carbonizado em “People Mountain People Sea”, as relações familiares e afectivas e a justiça social. É nessa paisagem de terra queimada – o proletariado chinês, hoje – que se desenrola a história de vingança de um homem que, pela inoperância da polícia, decide encontrar o assassino do irmão e fazer justiça pelas próprias mãos. A forma como Cai Shangjun enquadra, o abandono das personagens numa paisagem que não é generosa para a figura humana, as entradas e saídas dos casebres ou o mutismo do vingador, fazem de “People Mountain People Sea” o mais próximo que o cinema chinês poderá chegar, sem “pastiche” e sem paródia, do “western” norte-americano – portanto, um “eastern”. Impressionante.