Steve McQueen, cineasta

É quando Carey Mulligan canta num clube nocturno de Nova Iorque,  “New York, New York” em registo “blues”, “dowtempo”, que se percebe que temos cineasta. Num outro filme essa sequência teria duração funcional: alguns acordes, eventualmente o refrão, e a seguir corte… Mas McQueen faz-nos ouvir a interpretação toda – Mulligan é assombrosa, de resto. E é a duração da sequência que “fala” pela personagem.

Há outros planos assim, que nos filmes costumam ser meros pontos de passagem, e que McQueen utiliza em extensão e profundidade. Um filme de exposições tão frontais é afinal um filme tão interessado na secreta viagem interior das personagens. Como o título: “Shame”/ “Vergonha”. Nada no filme o explica. McQueen contava ontem que foi a palavra que mais apareceu nos relatos dos nova-iorquinos que entrevistou durante a pesquisa para o filme: ou seja, está para além do visível e do figurado.

(E o “la Reppublica” diz que “Shame” são “novanta minuti di nudi e sesso”)

Havia no filme anterior, “Fome”, qualquer coisa de atordoante à superfície que não deixava perceber que cinema estava no interior. O formalismo, rígido, ainda era o da instalação. Algo se interioriza em “Shame”. Há cineasta.

 

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