Lóbi em sentido contrário

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Por Susana Coroado, investigadora da TIAC

Tradicionalmente, olhamos para o lóbi como uma forma de interesses privados (em geral, mas não exclusivamente, económicos) influenciarem os poderes públicos. Mas e o contrário, isto é, interesses nacionais procurarem exercer influência sobre interesses privados ou outros interesses públicos?

A diplomacia tem sido o instrumento de excelência dos governos na defesa dos seus interesses perante outros Estados e junto a organizações internacionais. No entanto, há já algum tempo que os governos deixaram de se limitar à estrutura diplomática para representar os seus interesses estratégicos nacionais. Há, aliás, quem comente já o declínio ou a privatização da diplomacia. Executivos de vários países começam a recorrer igualmente a firmas de lóbi profissional, também conhecidas por empresas de Public Affairs ou Government Relations, para defenderem e promoverem os interesses nacionais junto de organizações internacionais, de outros governos e até perante agentes do sector privado, em especial credores e potenciais investidores.

A capital norte-americana, Washington D.C., tem sido o palco privilegiado desta mudança de paradigma, uma vez que ali confluem o mais desenvolvido mercado de lóbi e alguns dos mais importantes decisores da política mundial. Os lobistas profissionais parecem ter mais contactos e saber circular melhor nos meandros da política norte-americana. Os lóbis de Israel e da Arménia são dos mais conhecidos e poderosos, mas não são os únicos a representar interesses nacionais. Os governos da Somália e da Tailândia já foram apontados como clientes de empresas de lóbi daquela cidade.

Portugal não escapa a esta tendência e já em várias ocasiões recorreu a lobistas para defender os seus interesses em diversas ocasiões. Algumas informações dão conta que o governo português terá já recorrido a lobistas em diversas ocasiões, entre as quais as candidaturas à realização da Expo98 e do Euro2004. Também na defesa da independência de Timor Leste terá sido utilizada uma empresa para fazer lóbi junto da Administração Norte-Americana que, à data, tendia a apoiar a Indonésia. Mais recentemente, o atual e o anterior executivos contrataram em 2010 e 2011 empresas de lóbi para “melhorar a imagem externa do país” junto de organizações internacionais, dos mercados e dos credores.

Académica ou legalmente, esta representação de interesses públicos perante outros poderes públicos nacionais e internacionais e perante interesses privados pode não encaixar nas definições de lóbi mais comummente aceites. No entanto, é inegável a adoptação das mesmas estratégias e recursos por parte de governos. O lóbi começa a ser uma realidade difícil de escapar, pelo que urge abrir um debate alargado sobre o tema em todas as suas vertentes.

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