Por Filipe Pereira, membro da TIAC
Como é possível assumirmos que vivemos em Democracia, se há um romper sistemático de compromissos sociais e um total desprezo pela Constituição? Não é esta ou aquela proposta de alteração à Constituição com o intuito de agilizar, modernizar ou torná-la mais funcional. É um sistemático conflito com premissas bases da Constituição que só se pode explicar pelo facto de que o(s) Governo(s) não se revêm nela. Democracia seria se os Governos eleitos se identificassem, seguissem e respeitassem a Constituição desse país.
Como é possível termos um número demasiado grande de deputados com presença em grandes escritórios de advogados que defendem os interesses das grandes empresas sem qualquer pudor? Democracia seria elegermos aqueles que nos representam e defendem os nossos interesses e não elegermos quem, pertencendo a facções partidárias e sendo elementos preponderantes de interesses e de negociatas, põe e dispõe de argumentos retóricos e contraditórios, ao sabor do momento e da corrente, estejamos em vésperas de eleições autárquicas ou de renegociações da Troika.
Como é possível falarmos de orçamento de libertação quando o Governo assinou um tratado com a benemérita Europa para que os futuros orçamentos do Estado sejam apreciados e aprovados pelo Eurogrupo? Democracia seria não hipotecarmos a nossa soberania e a gestão dos destinos das próximas gerações a quem não demonstrou qualquer respeito pelas diversos povos, desde que o projecto Europeu foi construído. Querem um projecto para os Europeus? Crie-se um outro projecto Europeu!
Como é possível estarmos ainda à espera de eventuais reformas do Estado, avançadas, discutidas, prometidas e usadas como manifesto político, sem que se tenha um pingo de vergonha pelo facto de nem um esboço de reforma do Estado ter sido apresentado? Aquilo que o “irreversível” vice primeiro ministro Paulo Portas apresentou não tem nada de reforma. É apenas isso mesmo, este é um guião de cortes e de mais transferências de serviços públicos para prestadores privados, com correspondente subsídio do contribuinte. E continuamos à espera, há já mais de um ano, de uma real proposta de reforma do Estado tendo sido essa uma das principais “justificações” para a sua promoção (ou “entalamento”). Democracia seria responsabilizar aqueles que durante os últimos 20 anos foram incompetentes para implementar tais reformas, sendo essa responsabilização a imediata suspensão de qualquer cargo político e, sendo provada a sua negligência displicente, a responsabilização criminal.
Como é possível falar-se em orçamento de equidade quando a totalidade da contribuição extraordinária sobre o sector energético (com preços sistematicamente acima da média europeia) e o aumento da contribuição sobre o sistema bancário (sistema que foi causa preponderante da crise em que estamos) totaliza uma ínfima parte da receita esperada com os anunciados novos cortes de salários, pensões e aumentos de impostos? Democracia seria o Estado reduzir as tarifas energéticas ou resgatar os prémios devidos às PPP e colocar as pessoas à frente destes interesses.
Por fim, como é possível sermos hipócritas ao ponto de bradarmos a plenos pulmões que isto tem que mudar se, ao mesmo tempo, nos deixamos corroer de inveja pelo vizinho que tem mais, nos deixamos corromper de egoísmo pelo amigo que “se safa” e se deixamos que o medo que nos é instigado de forma planeada e continuada nos absorva a capacidade de crítica e de activismo cívico? Isto não é democracia. Isto é hipocrisia.
O autor não escreve segundo o acordo ortográfico por decisão própria.
deveras, como prêmio por viver nesta por”demo”Caria,ganhamos políticos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais miseráveis e inextinguiveis, inúteis e inexplicáveis tributos.
O artigo patriótico só pelo simples facto de não aderir à traição designada “acordo ortográfico”, conclui que o grande problema da sociedade portuguesa está nos valores morais da maioria da população e institucionalizada na oligarquia dos grupos de interesse. É um exercício interessante investigar a origem desses valores que paulatinamente criaram nos olhos do eleitorado, cataratas espessas, que urge fazer cair enquanto existe Portugal e relacioná-las com os verdadeiros autores da desgraça de valores patenteados na Bandeira e Hino Nacionais. O necessário para resgatar Portugal à existência enquanto país decente, passa pelo milagre da difícil criação de um Partido Político cujos dirigentes possuam clara consciência da raíz do problema e consigam quórum eleitoral para implementar a verdadeira revolução orgânica, legislativa e moral de que o País carece para, ultrapassada a fase da prosperidade, sobreviver enquanto País independente e soberano.