Maiores empresas mundiais falham no teste da transparência

lead image

As maiores empresas do mundo cotadas em bolsa melhoraram a divulgação pública dos seus programas anti-corrupção, mas há ainda muito a fazer para aumentar a transparência na prestação de contas sobre as suas operações, revela um novo estudo publicado hoje pela rede global anti-corrupção Transparency International.

O estudo «Transparency in Corporate Reporting: Assessing the World’s Largest Companies» avaliou 105 das maiores empresas cotadas do mundo, com base no seu compromisso público com a transparência.

«As empresas multinacionais podem e devem assumir um papel significativo no combate global contra a corrupção. À medida que o mundo tenta recuperar da profunda crise económica de 2008, precisamos que mais líderes empresariais se comprometam em parar a corrupção», diz a presidente da Transparency International, Huguette Labelle.

As empresas foram avaliadas de 0 a 10, sendo 0 o menos transparente e 10 o mais transparente. A avaliação baseou-se na existência de informação pública acerca de sistemas anti-corrupção nas companhias, na transparência com que comunicam a sua estrutura e organização interna e na quantidade de informação financeira disponibilizada para cada país onde operam.

De um modo geral, as empresas mostraram melhorias na forma como comunicam os seus compromissos com programas anti-corrupção, em comparação com um estudo das mesmas companhias feito pela Transparency International em 2008.

A norueguesa Statoil foi a mais bem classificada, com um score de 8.3. A Statoil revela informação significativa sobre os seus programas anti-corrupção, subsidiárias, impostos e lucros nos 37 países onde opera.

O estudo revela, por outro lado, que o reporte em matéria de transparência por parte de bancos e seguradoras continua abaixo da média. Recorde-se que a opacidade das estruturas corporativas no setor financeiro desempenhou um papel crucial na recente crise, pondo a nu a necessidade de resolver a falta de transparência deste setor à escala global. As 24 empresas financeiras incluídas no relatório tiveram um score médio de apenas 4.2.

Multinacionais em Portugal pouco transparentes

Analisando especificamente as 48 multinacionais com operações no nosso país, os resultados deixam também muito a desejar. O estudo revela que nenhuma das 48 empresas revela o contributo das operações em Portugal para os seus resultados globais – o que significa, desde logo, que uma boa parte da riqueza produzida em Portugal não aparece de forma transparente nas contas das empresas que a produzem.

«Portugal goza da má reputação de ser um país ineficiente e improdutivo, mas a verdade é que muita da riqueza que produzimos não é contabilizada como sendo produção nacional, porque as multinacionais presentes no nosso país não especificam o contributo de Portugal para os seus resultados globais. Pior do que isso, esta falta de transparência na prestação de contas impede os cidadãos de perceberem qual a relação que estas multinacionais estabelecem com os governos locais. Quantas destas empresas participam em contratos públicos, ou em parcerias público-privadas em Portugal? As empresas deviam divulgar claramente esta informação, e não o fazem», diz Paulo Morais, vice-presidente da Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC), o ponto de contacto nacional da Transparency International.

A falta de transparência torna mais difícil perceber onde as empresas geram os seus lucros, pagam impostos ou contribuem para campanhas políticas. O estudo mostra, por exemplo, que três quartos das multinacionais avaliadas não revelam onde todas as suas subsidiárias estão registadas, e cerca de metade não revela informação sobre contribuições políticas.

«As empresas multinacionais continuam a ser uma parte importante do problema da corrupção em todo o mundo. Chegou a hora de se tornarem parte da solução. Para isso, têm de fazer melhorias dramáticas», diz Cobus de Swardt, diretor executivo da Transparency International.

A Transparency International apela às empresas para que lutem contra a corrupção, divulgando mais informação acerca da forma como mitigam os riscos de corrupção nas suas atividades e tornando pública a forma como se organizam e os fluxos financeiros que geram nos países onde operam. Só com este nível de informação será possível os cidadãos perceberem quanto dinheiro flui para os orçamentos públicos, uma questão fundamental de responsabilização política para os governos em todo o mundo.

Os governos e os reguladores devem tornar este nível de transparência obrigatório para todas as empresas que pretendam receber subsídios à exportação ou concorrer a contratos públicos. Os próprios investidores devem exigir maior transparência na prestação de contas das empresas, de modo a garantir um crescimento ético e sustentável do negócio, bem como uma mais eficiente gestão de riscos.

Um comentário a Maiores empresas mundiais falham no teste da transparência

  1. Pingback: Maiores empresas mundiais falham no teste da transparência « DANIEL SERRA AZUL GUIMARÃES

Deixar um comentário

O seu email nunca será publicado ou partilhado.Os campos obrigatórios estão assinalados *

Podes usar estas tags e atributos de HTML:
<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>