“Malandros são os que se sentam à mesa do orçamento. O resto de nós está só a ver se se safa”.
Em Portugal, mesmo na crise, as atitudes dos cidadãos em relação à corrupção não são tão lineares como se pode pensar. Num estudo feito em 2006, 64% dos inquiridos considera a corrupção admissível, desde que seja em “benefício” da população. Ou seja, desde que o político cumpra com o que esperamos dele, não faz mal se meter algum no bolso. De certa forma, parece ser a perspetiva, “mereceu-o”.
Num país com um Estado frágil e ineficaz, impera o improviso, o “desenrascanço”. Nesse sentido, um pequeno pagamento para olear a máquina não é necessariamente mal visto. O problema, como demonstra um estudo feito pelos nossos colegas da Transparencia Mexicana, é que o “pequeno suborno” é coisa que não existe. Além de serem uma barreira que se intromete entre os cidadãos e o seu direito a serviços essenciais, estas “luvas” têm um custo pesado na economia – no caso mexicano, a estimativa para 2010 é de 32 mil milhões de pesos perdidos em pequenos subornos. São quase dois mil milhões de euros!
E há outro problema, sublinham os autores Eduardo Bohorquez e Deniz Devrim: as palavras contam. Enquanto continuarmos a chamar a estes buracos no sistema “pequenos subornos”, vamos continuar a ter um grande problema. A expressão é uma licença para desvalorizar o fenómeno e baixar os braços face à corrupção endémica.
Atenta, a Transparency International lançou o repto no seu site e nas redes sociais para rebatizar o pequeno suborno. Que nome dar a uma enxurrada quando só nos apercebemos dela uma gota de cada vez? Alguma ideia?