O preço da crise: a corrupção grega e o futuro da Europa

As ondas de choque da crise continuam a fazer-se sentir na Grécia. Depois da austeridade, é a Justiça que começa a reagir. E a reação mais visível, até agora, foi a prisão do ex-ministro da Defesa, Akis Tsochatzopoulos, por suspeitas de corrupção na compra de submarinos a um consórcio alemão – note-se que dois representantes do consórcio foram condenados na Alemanha por subornos a políticos na Grécia e em Portugal. E se na Grécia, o ex-ministro está a contas com a Justiça, em Portugal o caso continua em investigação, sem fim à vista.

O retrato da Grécia feito pelo New York Times é o de um país habituado à corrupção endémica e aos favores pessoais pagos com o Orçamento do Estado. Com a crise veio a falência (literalmente) dessa cultura política, pelo que será interessante ver que reformas, se é que algumas, sairão do Governo que os gregos escolhem em eleições parlamentares já no próximo domingo. Para já, a Transparency International na Grécia publicou um conjunto de 8 recomendações, uma espécie de programa-base para o combate à corrupção, com o qual os partidos gregos ainda não se comprometeram – mais um sinal de que o discurso anti-corrupção que sai facilmente da boca dos políticos tarda a traduzir-se em ações concretas.

E esse é, de resto, um problema europeu. Apesar do consenso sobre os danos da corrupção e os seus custos para a economia (estima-se que, só na Europa, a corrupção custe 120 mil milhões de euros por ano), falta uma ação integrada e eficaz de prevenção e repressão do crime. A Comissão Europeia aprovou recentemente um conjunto de medidas, mas a própria comissária responsável pela pasta, Cecilia Malström, reconhece, citada pela Deutsche Welle, que continua a faltar vontade política para uma abordagem de tolerância zero.

O problema é que o custo da corrupção não é apenas económico. A crise da dívida europeia semeou a discórdia e a desconfiança entre países e está a enfraquecer a União. Como notava há dias a repórter do Público Maria João Guimarães, em Atenas, a animosidade entre gregos e alemães está ao nível mais elevado desde, provavelmente, a II Guerra Mundial. E é essa desconfiança que se arrisca a travar a adesão de novos países e o desenvolvimento do projeto europeu.

Em nome dessa abordagem de tolerância zero, a TIAC lança na próxima segunda-feira o seu estudo Sistema Nacional de Integridade, onde diagnosticamos as forças e fraquezas das várias instituições do Estado, do setor privado e da sociedade civil com responsabilidades no combate à corrupção. O estudo lista as principais falhas do sistema e inclui um conjunto de recomendações claras e concretas para tornar mais eficaz a luta contra o crime. É altura de deixarmos de encolher os ombros e mobilizarmos a sociedade para as mudanças que se impõem!

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