A causa das coisas

Andrew Medichini/AP Photo

Em Itália, o primeiro-ministro Mario Monti parece estar a mudar de foco, dedicando agora os seus esforços ao combate à corrupção. Se este empenho se confirmar, a opção de Mario Monti pode ser crucial na evolução da situação italiana – mas, mais do que isso, pode dar um sinal luminoso ao resto da Europa, presa no circuito fechado da austeridade e da recessão.

Se o novo Governo em Roma conseguir levar a cabo reformas claras, persistentes e coerentes no combate à corrupção, será, de certo modo, uma autêntica surpresa. Não só pela posição italiana nos rankings internacionais de transparência (entre os países da zona euro, a Itália está no penúltimo lugar no Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International, atrás apenas da Grécia), mas porque Mario Monti foi um tecnocrata escolhido sob pressão externa (de Berlim e de Bruxelas) para liderar um Governo de emergência, não sufragado nas urnas.

A ideia do Governo Monti era colocar o Executivo nas mãos de um tecnocrata experiente, não político, para amenizar a difícil situação financeira da Itália, na expetativa de acalmar os mercados e recuperar a confiança. Se Mario Monti se mostra agora mais empenhado no combate à corrupção do que nas reformas económicas típicas do receituário da troika que Portugal e a Grécia tão bem conhecem, é porque o primeiro-ministro terá compreendido que mais importante do que gerir as consequências do problema é atacar as suas causas.

A corrupção é um imposto escondido, que custa milhões de milhões à economia italiana (e às economias europeias, Portugal incluído), mina a confiança e retrai o investimento. Mais urgente do que acumular cortes orçamentais e aumentar impostos, é criar condições de transparência e segurança nos investimentos, que ajudem não só a criar riqueza, mas a garantir que a riqueza criada não fica apenas nos bolsos de alguns e beneficia a economia como um todo.

Importa seguir de perto a experiência italiana. Talvez venha a ensinar alguma coisa à Europa sobre quais devem ser as verdadeiras prioridades. Ao mesmo tempo, o facto de estas iniciativas se desenharem agora, sob a égide de um Governo não eleito, levanta outra questão, mais espinhosa, sobre a qualidade das democracias: porque é que os partidos italianos, representantes da vontade popular, não deram até agora à corrupção a atenção que se exigia?

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