A sua situação financeira, as hesitações dos seus políticos e a indefinição da Europa há muito colocaram a Grécia no olho do furacão da crise das dívidas soberanas. O país está a ser esmagado por sucessivas ondas de austeridade orçamental e fiscal, na tentativa de recuperar a sustentabilidade das suas contas públicas – um objetivo que parece cada vez mais posto em causa, à medida que o impacto da austeridade tem reflexos diretos na contração da economia.
À medida que procuram respostas para sair da crise, os gregos são também chamados a questionar-se como foi possível terem chegado a este ponto. Com o descrédito nos políticos em níveis recorde (sobretudo agora, que a Grécia vive com um Governo interino que não se apresentou a votos), o estudo do Sistema Nacional de Integridade grego, feito pelos nossos colegas na Transparency International Grécia, revela o papel da corrupção na degradação da vida democrática – e da situação económica e financeira.
A corrupção tem custos brutais nos países que não conseguem proteger-se. No caso grego, revela o relatório do Sistema Nacional de Integridade, à crise económica soma-se uma crise de valores na sociedade, que se espelha em atitudes permissivas em relação à corrupção. Dar a volta às dificuldades vai exigir não apenas medidas económicas ou financeiras, mas uma mudança na forma como os cidadãos e as empresas se relacionam com o Estado. É precisa mais transparência, mais informação, mais empenho por parte dos cidadãos. Porque, quando não se quebra a cultura da corrupção, não estamos livres de voltar a passar por crises semelhantes.
Em Portugal, a TIAC prepara-se para lançar, dentro de algumas semanas, o nosso próprio estudo sobre o Sistema Nacional de Integridade português. Quando tantos, na Europa e no mundo, nos encaram como a próxima “Grécia” no mapa global da crise, será interessante procurar divergências e pontos em comum na forma como ambos os países combatem a corrupção.
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