Chamemos-lhe o segundo capítulo d’o que a Irlanda nos ensina sobre corrupção. Veja se isto lhe soa familiar:
– Uma bolha imobiliária causada pelo “triângulo tóxico” composto pelo partido político no poder, a banca e promotores imobiliários;
– Uma cultura, aos mais altos níveis da sociedade, que procurava no urbanismo fortunas extraordinárias – e políticos determinados a ficar com a sua parte.
O diagnóstico da crise irlandesa, citado pelo Irish Times, foi feito pelo atual Tánaiste (vice-primeiro-ministro), Eamon Gilmore e, por isso mesmo, deve ser levado com uma pitada de sal. As críticas do responsável político, como sempre acontece, dirigem-se aos seus opositores no partido Fianna Fáil, que estava no poder quando a crise soou e hoje lidera a oposição.
Mas é interessante procurarmos o nosso reflexo neste espelho celta, até pelo que ele nos diz sobre a evolução de um sistema partidário pós-revolucionário. A abertura do Fianna Fáil à corrupção, segundo acusa Gilmore, coincide com a altura em que a geração de velhos idealistas que lutou pela independência (concedida em 1921) começa a sair de cena, sendo substituída por figuras da nova geração, com carreira feita no interior do partido e que se distinguiram, entre outras coisas, pela capacidade de captar financiamentos partidários.
“Quando um jovem Estado começa a assumir um papel ativo no desenvolvimento económico, é comum surgirem oportunidades para políticos desonestos enriquecerem”, aponta Gilmore. A pureza dos ideais revolucionários perde-se depressa. E se o Estado não estiver apetrechado para prevenir abusos, a corrupção instala-se.
Soa familiar? O mundo é pequeno.
Um exemplo a ser dado!